A última dança
Naqueles dias de sombra, quando tudo parecia somente um filme antigo
Existia uma luz que me ajudava a ver o caminho que eu queria seguir
Esta luz me guiava pelos dias mais escuros, sem nunca me deixar errar
Mas como o tempo sempre te mostra a verdade dos fatos
Você começa a duvidar de si mesmo, começa a achar que existi uma distorção no que se vê
Torna os dias mais difíceis, porque a dúvida traz sentimentos ruins
Mas você não pode parar, pra tentar descobrir o que de fato você sente
Porque sempre vão existir outras coisas que você precisa fazer
Pensar no futuro, esquecer o passado e ajudar o presente
Organizar dentro de você as coisas que você já deixou pra ontem
Que atropelam o hoje e no amanhã a lista só está maior
Percebe que no final da semana, você acumulou coisas de um mês
E a sua mente se pergunta o porque disso, busca tentar entender
Porém na sua porta bate o dia de hoje, mas quando você abre a porta
Vê que logo atrás existem dias e dias que já parecem estar em luto
Pois foram esquecidos e deixados de lado, mas não era o que você queria
Você se culpa por não conseguir, por não ser suficientemente capaz de conseguir
Você se culpa e a culpa te faz sentir que talvez você não seja bom
Bom o bastante pra cumprir o mínimo esperado
Você não se torna apto, você se torna ainda mais inábil
Porque existe tanto peso, tanta carga dentro de você
Que os seu movimentos se tornam prejudicados por essa carga
Então você falha, começa a naufragar em um mar de escuridão
Pois tudo o que esta a sua volta é tão denso, que nem os raios de sol conseguem passar
Começa a vagar sem rumo, sem direção certa que te leve ao objetivo
Se torna falho, se torna obsoleto, esquece o que é viver
Procura respostas em lugares onde nem a pergunta é levada a sério
Onde ninguém consegue entender o que você esta falando
Até porque ninguém consegue ver o que passa dentro de você
Ninguém sabe suas dores, ansiedades, suas tristezas
E por muitas vezes ninguém nem quer saber o que você sente
Porque todos já vivem suas próprias angústias e medos
E ninguém tem o dever de ajudar ninguém, afinal nascemos sozinhos
E vivemos aqui para suportar tudo sozinho, envelhecer na piedade da vida
Torcer pelo melhor, receber o pior e tentar fazer disso o mais digno possível
Mas com tanta coisa acumulada dos anos em invalidez assistida
Você se sufoca, se sabota e se destrói sempre da pior forma possível
E o pior, que você recebe da vida se transforma em um sentimento miserável
Ao ponto de você não conseguir perceber um sorriso espontâneo
Que talvez você receba um dia em sua vida, aquele gesto sem nenhum tipo de intensão
Um gesto de verdade na sua essência, não aquilo que todos estão acostumados a receber
Perceber que tudo tem uma intensão, tudo tem um motivo que não deveria estar lá
Reprimi a verdadeira natureza da essência da vida ao final
Porque tudo não passa apenas de cordialidades do cotidiano
Delicadezas entre os que acabam por vez se encontrando na existência
E depois de realizar tudo isso, você percebe que só existe o vazio do que lhe é imprescindível
Que não tem valor algum na vida, a não ser o que você tem a oferecer
Seu valor é medido pelo que você possa ter, mesmo sabendo que isso não existe
Um endereço, um jeito de ir aos lugares, como conseguir o valor da vida
Tudo não passa de irrelevâncias, mas no final é primordial
Sem isso, ninguém vai dar valor nenhum pra ninguém
Percebo agora que muitas pessoas não existem e me incluo nessa lista
Eu não sei quando eu deixei de existir, nisso que eu chamo de vida
Mas agora eu sei que não foi hoje, nem ontem, nem outrora
E o que fazer quando você descobre que nem existe mais
Que esta ocupando um lugar que nem é seu, gastando o tempo e destruindo sonhos
Qual sua função, seus objetivos, seu motivo de sorrir, o que te faz levantar pela manhã
E pra completar esse ode ao vazio de uma existência frívola
Quando você realizar dentro da sua mente tudo isso que escrevi até agora
Perceberá que sua vida não tem valor nem significado
E que você não precisa existir, pois ninguém perceberá a sua inexistência
Ninguém vai dar falta de alguém que nem ao menos existiu
Alguém sem valor, sem cor ou sem brilho
Nessa hora nada mais faz sentido e você só espera o dia acabar
Para ver outro dia chegar e o vazio tomar conta novamente
Até que o último dia chegue, e ninguém vai estar lá para segurar a tua mão
E vai aceitar esse sentimento assolador que faz parte do seu destino
Vai deitar e consentir o seu último desejo neste lugar
O toque belo do fim, libitina