I-XCV Jaezes de vida e morte
E como fez-me mais do que são,
continuei a procura do que me devolva à ilusão.
É fácil perder-me no dia sem que sinta algum calor,
reencontro-me sob sete palmos do mal e do rancor:
O que fez da vida imperfeição, que leva quem nos dá a mão,
que escuta o anseio e ri do nosso louvor,
que ouve as preces e nos impede de ver quem nos matou.
Assim pago por o que não sei, privilégios ostento sem ser alguém,
sou tão grato ao acaso que o dei o nome de "ninguém".
Que seja assim, então, a vida, sem critérios mas com contextos,
com deveres velados e razões em segredo.
À fina alma que me alegrou um dia:
Lembro-me da euforia sem que eu sinta alegria,
como disse sobre os saltos do amor,
que, com um belo passado, ainda se tranca
no futuro sem esperança.
Vivo o fascínio por ter alguém, e sofro
por temer quem mais o tem, pois as promessas
vêm com rumores, para que sobreviva a paz
sem que revele meus temores.
Não é escolha viver como um tolo,
é consequência de ser-me ao todo.