As cascas da laranja
Um dia eu assisti a uma das tantas palestras da professora Lúcia Helena Galvão e fiquei completamente intrigado com uma comparação que ela fez ao falar sobre as dores da vida. Porque o que acontece em muitas vezes é que ficamos remoendo nossas dores eternamente. E não nos libertamos delas. Talvez a ferida já até esteja cicatrizada. Mas ainda não nos convencemos disso e ficamos nos lamentando por algo que não precisávamos carregar conosco, por um peso excessivo que a nós seria muito mais lucrativo se o abandonássemos pelo caminho depois dele ter servido para o nosso crescimento e amadurecimento.
A professora disse que ao ficarmos arrastando conosco as dores da vida é como se, depois de termos reunido algumas laranjas e feito o suco, ficássemos carregando conosco, por onde formos, em todos os lugares, as suas cascas. O suco é o aprendizado. As cascas são as experiências, por vezes dolorosas, que precisamos vivenciar até esses aprendizados. Às vezes nem tomamos o suco. Ou seja, nada aprendemos com os infortúnios, mas ficamos, insistentemente, carregando suas feias e murchas cascas.
Que você possa aprender a partir de suas adversidades. Que você possa se enriquecer pessoalmente a partir das lágrimas que porventura vier a derramar. Chore suas dores, é claro. Lamente suas perdas, fique à vontade. Sinta essa dor se manifestar em seu ser. Mas não se apegue a ela. Tudo na vida é passageiro, lembre-se disso. Portanto, deixe a dor passar. E permita que ela passe deixando apenas uma coisa: suas lições. É como o suco que tomamos. Ele passará pelo nosso organismo que se encarregará de se livrar dele mais tarde. No entanto, ficam seus nutrientes. A dor, talvez, precise passar pela sua alma: que fique algum ornamento que lhe sirva de lembrança para o fato de que possui nos braços e no peito uma força que ninguém mais tem.
(Texto de @Amilton.Jnior)