A FLEUMA E O CAOS*
Não sou melancólico...
Meu desgosto é apenas um "cisco no olho"—
algo que incomoda, mas não tem a força
de me fazer renunciar à vida.
É estranho pensar que, depois de mim,
só haverá o antes de mim.
Mas como negar que esse é o melhor dos planos?
Castigo pior é morrer ainda vivo.
Caminho na corda bamba da bendita ansiedade,
onde costumo exercitar o "equilíbrio",
procurando satisfação nas coisas simples,
mas vejo apenas a coloração cinza das horas.
Felizes os tolos que preferem não se desviar do diagrama.
Crescemos mesmo é com as dores,
e essa dor que não consigo descrever
nem é dor, de fato.
Tentam nos enganar com soluções amorosas—
que servem aos propósitos desses "amores".
Mas isso só piora meu estado de saúde mental.
Às vezes, penso que sou a fleuma e o caos,
um desgraçado psicopatológico
tateando em direção ao fim,
dopado de mim mesmo,
que se revela nas crises.
Sigo, então, vivendo (perdoe-me a força da expressão)
com a impotência declarada de meus dias terminais.