A FLEUMA E O CAOS*

Não sou melancólico...

Meu desgosto é apenas um "cisco no olho"—

algo que incomoda, mas não tem a força

de me fazer renunciar à vida.

É estranho pensar que, depois de mim,

só haverá o antes de mim.

Mas como negar que esse é o melhor dos planos?

Castigo pior é morrer ainda vivo.

Caminho na corda bamba da bendita ansiedade,

onde costumo exercitar o "equilíbrio",

procurando satisfação nas coisas simples,

mas vejo apenas a coloração cinza das horas.

Felizes os tolos que preferem não se desviar do diagrama.

Crescemos mesmo é com as dores,

e essa dor que não consigo descrever

nem é dor, de fato.

Tentam nos enganar com soluções amorosas—

que servem aos propósitos desses "amores".

Mas isso só piora meu estado de saúde mental.

Às vezes, penso que sou a fleuma e o caos,

um desgraçado psicopatológico

tateando em direção ao fim,

dopado de mim mesmo,

que se revela nas crises.

Sigo, então, vivendo (perdoe-me a força da expressão)

com a impotência declarada de meus dias terminais.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 14/06/2023
Reeditado em 18/10/2024
Código do texto: T7813768
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