Você está aqui - nesta vida
“Você está aqui” - uma informação comum em mapas de sites, de repartições públicas, de estações de ônibus, aeroportos, etc. O objetivo é usar a própria pessoa como referência a todo resto e usar todo o resto como referência para a própria pessoa. É outra forma, mais casual, de dizer a frase, com sentido mais profundo, de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. Cada um é um ponto (de onde se vê - a vista de um ponto), em torno do qual todo o mundo acontece, aconteceu e acontecerá.
Esse “você está aqui” me faz pensar que temos, numa só vida, inúmeras vidas. Agora e aqui estou. Este é o meu ponto - na verdade, o ponto em que me encontro. E esta é minha vida - a que me encontro. Mas não é a única vida nesta única vida que tenho.
E você e qualquer outra pessoa… estão em tantos outros pontos e já estiveram e estarão em vários e vários outros. Inúmeras outras vidas. E sempre a referência era, é e será você mesmo, você mesma.
Lembra-se (se isso fizer parte de suas memórias) do caderno de poemas lá da infância, das brincadeiras na rua, dos bailes, das festas, da outra cidade, do amigo que nunca mais viu, daquela professora (como era mesmo o nome dela?), daquela chuva em que teve a oportunidade de se declarar para alguém, do primeiro beijo…? Parece ser outras vidas...
Agora, pense como diante de um espelho neste recorte do tempo e espaço. Quem é você? O que ficou? O que mudou? O que é novo?
A vida vai se desfazendo, refazendo-se… É como o paradoxo do “navio de Teseu”. É, em resumo, uma história do herói grego Teseu que retornara a Atenas após uma longa viagem marítima. Durante essa viagem, ele e sua tripulação foram trocando todas as partes do navio - as placas velhas de madeira e outras peças eram atiradas ao mar e substituídas por outras novas. No final, tudo foi trocado. O paradoxo é o seguinte: o navio do retorno é o mesmo da partida, considerando que já não há nenhuma peça do antigo?
Em nossa vida, vamos trocando as peças até nos vermos diante de um navio nunca antes visto. Mas é o navio que temos, que fizemos. Não a partir do nada. Foi construído a partir de todas as experiências, todas as vivências, de muitas coisas atiradas ao mar... Enfim, aqui estamos. Esta é a nossa vida em meio a tantas outras. Uma única vida feita de inúmeras vidas.