Vale Sombrio
Você dorme enquanto eu agonizo, você come enquanto eu pluralizo. Continuo roendo as unhas, enquanto perdendo dentes e cabelos, além de andar atormentada em incontáveis noites de insônia.
Você vive incrustado na minha pele, como gordura e músculo. Como uma velha anemia.
Você surge todo fim de dia e eu mergulhado na lama da sua memória, acorrentada à sua respiração, agonizo uma vez mais naquela sensação deteriorável.
Escolheu cada letra e cada pausa, desviava o olhar nos minutos inevitáveis de dizer o que pretendia. Não respondeu a nenhuma das minhas perguntas. E fico pensando, quantos beijos me deu por dar.
Não adie o que é inevitável, já perdi o meu lugar. E então, destronada, num cemitério de lágrimas, estou voltando para o Vale Sombrio, onde eu impero, onde sou Dona da Melancolia, Senhora da tristeza, a Rainha absoluta da escuridão.