FENOMENOS SOBRENATURAIS À LUZ DA PSICANÁLISE

Sabemos que os processos psíquicos, segundo Freud, acontecem em três instâncias: inconsciente, pré-consciente e consciente. Sendo acrescentado posteriormente a sua teoria o Id, Ego e Superego.

De acordo com a psicanálise, a personalidade de um indivíduo é formada desde os primeiros instantes de vida. As esferas culturais, sociais e familiar influenciam o desenvolvimento.

Neste presente artigo, quero dar uma atenção especial ao papel da religião na formação de algumas psicopatologias e no sentido espiritual que damos para acontecimentos biológicos.

Uma coisa ao longo da história é fato, nunca se soube de uma civilização onde não existisse nenhuma forma de religião. O divino está presente em todas as sociedades de todas as épocas.

No ocidente, uma religião que se popularizou foi o Cristianismo, sendo hoje a maior religião do mundo e a bíblia sendo o livro mais vendido.

Assim como toda religião, o Cristianismo tem suas ramificações e linhas de pensamento.

Quando focamos para o monoteísmo, encontramos outras duas grandes religiões, além da religião citada anteriormente. São elas: Islamismo e Judaísmo.

Como dito antes, a fé ocupa um papel importante na formação de uma sociedade e, na mesma medida que ela traz benefícios, como esperança, gratidão, fraternidade; ela também traz alguns preconceitos como intolerância com alguns grupos minoritários e baixa flexibilidade em suas doutrinas.

Explanada essa breve introdução, vamos ao ponto deste artigo.

Como a religião é um dos fatores de formação do indivíduo na sociedade, e como tendemos a dar sentido aos fatos que nos ocorre, não é errôneo afirmar que muitos dos fenômenos biológicos que nos acontece, temos a tendência de atribuí-lo ao sobrenatural, especialmente as pessoas que professam mais profundamente alguma fé. Um exemplo prático é a ilusão auditiva, quando alguém ouve seu nome sendo chamado, sendo que não há ninguém nos arredores. Esse fenômeno acontece quando algum som ao redor é incompreensível e nosso cérebro tenta construir um sentido para ele, ou seja, tenta transformar esse som incompreensível em algo que compreendemos, como o nosso nome sendo chamado.

Esse mesmo fenômeno, dentro de algumas religiões como o Espiritismo, é creditado ao sobrenatural, alegando que algum espírito está tentando se comunicar com o plano material.

Claro que tudo isso se trata de um exemplo prático e raso, para compreendermos a interferência da religião na formação da personalidade. Mas devo salientar que fenômenos sobrenaturais, por mais que alguns possam ser respondidos pela ciência, ainda são mistérios para a humanidade. Por isso não é possível fazer afirmações absolutas.

Contudo, uma psicopatologia muito tratada por Freud, inclusive sendo ela o pontapé inicial para a criação da psicanálise, a neurose histérica, desenvolveu um grande papel na compreensão dos fenômenos de possessões demoníacas.

Com a força da igreja católica na idade média, as pessoas histéricas, quando manifestavam os sintomas da neurose, eram tratadas como possuídas pelo demônio. Graças a essa visão sobrenatural de fenômenos psíquicos, muitas mulheres foram taxadas de impuras e muitas até morreram.

A neurose histérica é a conversão somática de conteúdos psíquicos reprimidos, ou recalcados, que são insuportáveis ao neurótico. Em suma, a conversão é o corpo manifestando aquilo que a mente quer esconder.

Devido a essas manifestações somáticas, a pessoa histérica simulava manifestações “demoníacas”, sendo essa a verdade que o neurótico conhecia na época em que a possessão estava em voga.

Foi apenas com a teorização da histeria e com o famoso caso de Freud, Anna O., que a possessão passou a ser vista no âmbito psíquico. Na verdade, após a teorização da psicanálise, muitos estigmas e tabus foram sendo derrubados. Como o caso dos neuróticos que eram considerados intratáveis pela medicina vigente na época. A psicanálise foi um grande divisor de águas.

Os estudos da mente que se seguiram às descobertas de Freud e de outros autores, foram sendo decisivos para entender a possessão e outros fenômenos antes considerados de origem sobrenatural.

A verdade é que ainda existe um caminho muito longo a ser percorrido, a mente ainda é uma estrada sinuosa e muitas vezes incerta. Mas hoje já estamos mais perto de entender o pensamento humano do que alguns anos atrás.

Para concluir este artigo, apesar de muitos esclarecimentos surgirem a partir dos estudos da mente e da maneira que os seres humanos dão sentido a sua vida, ainda existem aqueles que refuta os esforços dos estudiosos de teorizar os fenômenos cotidianos.

Como o foco principal aqui é a religião, falarei especificamente de alguns líderes muito influentes que atribuem manifestações neuróticas nos enfermos, como manifestações de origem diabólica. Até mesmo a depressão era vista por alguns como “falta de Deus”, que pessoas que possuíam fé no divino não sofreriam de tal doença.

Graças aos esforços de conscientização esse pensamento acerca da depressão tem mudado e a população tem tratado o tema com mais seriedade.

Enfim, devemos analisar corretamente os sintomas manifestos em um indivíduo, considerando nele toda a sua estrutura familiar e social. É preciso entender a constituição da psique desse indivíduo e ajudá-lo a não reduzir toda sua história e luta em um simples pensamento religioso e sobrenatural.