I-XCIII Jaezes de vida e morte
De uma população que não se acaba,
tenho minha arte exilada,
e mais minha vergonha por não ser nada.
Quão fútil é meus afazeres que,
de tanto fazer, alucino sobre algo ser.
Desencarno dos sonhos que outrora nutria,
abandonando-os como folhas que o vento impelia.
Me desprendo do mundo terreno,
em busca de um lugar além, do eterno sereno.
Apesar de viver da ânsia, a cicatriz da dor,
declamo diariamente meu amor e fervor,
quase como obrigação, se tornou saudação.
É prece a Deus, minha afeição.
É meu túmulo, no vazio, próximo ao rio.
Semeia má poesia para perder a alegria,
e cubro-nos de letras e versos,
até perdermos o eco, os olhares dispersos.
E, sob silente oração, a alma volta à expansão.