I-XCII Jaezes de vida e morte
Os perigos da ambição vêm sem que a arte cale,
como se o valor deste mundo fosse a realização das vontades.
Minha casa vazia ecoa mais histórias que Lemúria afundou,
fazendo-me eterno fantasma sem trégua no amor.
Vivo amado, cuidado, como filho e como marido,
por meu Pai, pela família e amigos,
por desconhecidos, vivos ou escondidos.
Digo todos os dias sobre meu amor,
escondendo o anseio, sequela da dor.
Privilegiado recebo em dobro, e mais durmo
com um olho. E sem que eu perca alguma coisa,
já sinto-me sozinho sobre os ombros de meu Pai,
sob o destino resguardado e garantido,
e enlouqueço sem que algo faça sentido.
E diante de centenas de palavras, finjo não ouvir respostas,
forçando um instinto de prever o que não conta.
Assim vivo exausto na ciência,
rodeado de quem, prega a mim, carência.
São sacrifícios que eu quis, mas finjo ser indícios de um fim.
São consequências das vontades que, de longe, mais
me causam alacridade.
Que Deus tire de mim, até esta última palavra,
o anseio de criar conclusões precipitadas.