Máscara
Meus olhos estão secos e ardem ao piscar. A sensação oleosa e incômoda na minha pele também não ajuda. Penso em ir até o chuveiro e me lavar. Lavar tudo dessa vez. Meu rosto, meu corpo, todas as 7 camadas de pele, meus órgãos e meu esqueleto. Tudo o que me constitui, tudo o que já me constituiu e tudo o que um dia me constituirá.
Quero sentir-me limpa ao menos uma vez. Decente e limpa. Feliz e limpa.
Não consigo parar de visualizar em minha mente, aquela garota hoje mais cedo, no banheiro feminino. Lavando seu rosto na torneira da pia. Eu senti um puro alívio por ela, e também uma inveja gigantesca. Não que eu não possa lavar meu rosto, claro, nada impede afinal. Apenas... não devo. Não devo porque meu rosto está coberto por uma máscara, uma máscara densa e mal-feita, uma máscara que mascara a insegurança e aumenta os traços, uma máscara que me suja e incomoda. E sabe? Nem sempre odiei a máscara e nem sempre a odeio. Adoro-a nos dias frios em casa ou em festas, ou em qualquer outro lugar que se estabeleçam pessoas que só iriam me ver apenas uma vez. Para que aquela minha imagem, mascarada, fique em suas mentes. No entanto, odeio a máscara quando ela se põem à mim quando estou com meus amigos, me escravizando a ser apenas mais um. Mais um falso sujo sem o frescor do rosto gelado e limpo.