Amor... O que você me deixou, afinal?
A forma como te amei me revelou uma parte até então inacessível. Meu modo de agir, os rabiscos que projetei, as canções que adentrei na minha rotina, os versos reclamados pelas ruas, as danças ensaiadas pela noite.
Pichei poesias no escuro do quarto e cantei versos de amor no meu silêncio noturno. Bailei com a rua vazia e ao som dos passos da multidão desorientada. Lhe desenhei no corpo que criei para coexistir junto a ti.
E o que você me deixou, afinal?
Dancei com estranhos em ruas desconhecidas sem que eles soubessem. A cada passo que dou agora, danço para cá e para lá com quem escolher passar.
Cantei velhos versos ensaiados que, até então, eu não havia parado para ouvir. Toda poesia que diz sobre o amor passou a dizer sobre a vida, e passei a conjugar o amor junto ao verbo "viver".
O desenho que fiz com você, eu guardei no vazio. Confesso que, volta e meia, vasculho aquele breu em sua busca. Não me canso de dizer: você é uma das partes mais bonitas que se pintaram em mim.
As poesias passaram a se escrever no rasgo que você me deixou. Os versos se lançam no vazio e saltam até onde eu possa ver e tocar. Da poesia eu visto minha dor, meu desamparo, minha ingenuidade, minha fragilidade. Da poesia acessei a perda do que eu entendia por mim. Da poesia eu dei início a um novo "eu".
Afinal, o que você me deixou, amor?
Amor.