O bom gosto é uma virtude?

Este será um texto de citações. E, através delas, desejo chegar à conclusão se ter bom gosto é uma virtude.

Perguntaram a Raoul Coutard, diretor de fotografia de diversos filmes da nouvelle vague, se ele havia revolucionado a maneira de fazer filmes. Ele respondeu que antes de fazer filmes, ele era jornalista e pesquisador de notícias; dessa forma, ele não dispunha de uma visão clássica de cinema. E concluiu lindamente que aquilo que chamam de seu estilo veio mais da sua pobreza do que de qualquer outra coisa. Portanto, ele não havia revolucionado nada.

Da mesma forma acontece comigo, aquilo que chamam de minha "cultura" nada mais é do que fruto da minha pobreza, dos meus parcos recursos para me educar. Mas, de modo geral, formam um todo harmonioso. Agora, outra citação:

No auge da efervescência da juventude francesa nos anos 60, um líder estudantil foi questionado por um repórter se, além das roupas e um lado superficial, eles não tinham preocupações mais sérias.

O jovem respondeu: "A superficialidade é uma noção de velhos. As roupas fazem com que nós gostemos de estética, e a estética faz com que gostemos de cinema e outras artes, e através delas, chegamos a problemas mais sérios. E isso nos permite pensarmos no nosso próprio futuro."

É assim que também enxergo a questão da superficialidade e a importância de se cultivar um bom gosto estético. Outra citação.

Ao me encontrar em um ambiente onde havia diversas pessoas de talento, alguns "compositores", outros tocavam algum instrumento, outros cantavam, outros possuíam uma boa retórica, confessei a um amigo que eu gostaria de, como eles, dispor de algum dom. Meu amigo, condescendentemente comigo, me disse que a minha "capacidade" de ler livros diversos, alguns considerados até difíceis, poderia ser considerada também um certo dom.

Bom, não sei se isso pode ser considerado um dom, mas se tenho uma determinada "habilidade", essa é a de ter bom gosto.

Sou incapaz de ler livros ruins, por exemplo. Sei reconhecer os bons. Por isso, não preciso necessariamente que me indiquem livros. Tenho na minha mente quais os livros que valem a pena ler. E tenho um acervo que, nem se eu fosse o Matusalém, conseguiria ler tantos. De modo semelhante, também tenho bom gosto para roupas e coisas belas.

Mas como faço para diferenciar as coisas que valem a pena das que não valem?

Ora, para mim, é bom aquilo que agrada ao juízo do meu corpo, inconscientemente. O que me faz crer que também tenho bom gosto para música. O que me faz concluir que Mbp, por exemplo, apesar de ter letras "cabeças", convenhamos, é chato pra dedéu. Ou vão me convencer que escutar uma música "genial" de Caetano é mais legal que um solo de guitarra de "Reptilia", dos Strokes? Ou qualquer coisa que fez, sei lá, Tom Zé (esse principalmente), Gilberto Gil, é mais gostoso de ouvir do que o disco "Random Access Memories", obra-prima do Daft Punk? Pode ser até mais "inteligente" e "genial", mas mais agradável de escutar, nunca. Verdade inquestionável devido à sensação de bem-estar proporcionada ao meu corpo quando o escuto. E o repúdio veemente do meu corpo ao pessoal da MPB, salvo raras músicas.

E se me questionarem se não há música boa brasileira, respondo que, se quiserem algo de bom gosto, que escutem Jorge Ben, Tim Maia, Tom Jobim, Chico Buarque, Mutantes, Secos e Molhados, ou os sambas-canções como "A Noite de Meu Bem", ou ainda o melhor compositor de língua portuguesa para mim, aí sim genial, Noel Rosa.

Enfim, esse discernimento de bom gosto acredito que seja uma dádiva. Aplico-o para o cinema e artes em geral. E essa capacidade é a única débil virtude que disponho. Graças a Deus.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 02/06/2023
Reeditado em 03/07/2023
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