"Motocicletas Atômicas

(e sobreviventes de um certo apocalipse)"

 

[ESCRITORES, PENSADORES & DISCOS VOADORES]

 

31 de maio de 2023, 15h49min

 

Vinha eu descendo uma ladeira, quando vi um homem puxando um cachorrinho Beagle pela moto em (rápido) movimento, num sol de três horas, em pista de pedra, cidade sertaneja; quente como o quê. Olhei em minha volta, com uma cara de: “alguém mais está vendo essa cena??”. Algumas pessoas subiam e desciam... Uma velhinha costurava, sentada na porta de casa e um homem ao seu lado, que talvez fosse seu filho, delirava de loucura. Me lembrei de quando estávamos em pandemia e todo mundo ficava tagarelando sobre se abraçar e eu torcia o nariz… A saudade de se abraçar. De se amar. De curtir o que vida oferecera, de graça, aqui fora, por muitos anos após peste negra, guerras mundiais, gripe espanhola e etc etc.(...) Continuei descendo a ladeira olhando pra baixo e sei lá por quê… eu sorri. (…) Sempre tive uma espécie de “ternura” pela humanidade... Mas, ternura e mérito/merecimento são coisas diferentes, que “parecem ser parecidas”. Talvez o planeta devesse sim, ter detonado com a gente de maneira mais bruta; Como se todas aquelas bombas atômicas que vivem noticiando que as grandes potências guardam nas suas pochetes, de fato explodissem. E eu iria junto, claro… A tal da “ternura” tá aí... Só que nos foi dada uma bomba invisível, confortável (mais que uma bomba atômica), "estudável" e "Enfrentável" em certa medida. Que de certa forma,  VARREU grande parte de suas vítimas com o mínimo de dignidade da possibilidade/tentativa de tratamento. Uma cama, uma UTI...  A Terra é generosa demais com a gente... Ela vê a humanidade com os mesmos olhos débeis que hoje fiquei olhando o homem da motocicleta que torturava seu Beagle.

 

(H.B)

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 31/05/2023
Reeditado em 31/05/2023
Código do texto: T7802373
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