Nietzsche, Searle e Russell

A partir da dor, tão somente se, da dor partirei constantemente até a aurora do saber ou do que virei a saber, mesmo que seja que não há saber. Com a dor aprendi a pensar, com a dor me vi desbravando universos nunca dantes vistos, apenas vislumbrados, com a dor eu senti o néctar dos deuses, subi ao Olimpo. Apenas com a dor, a partir da lama, do caos e da angústia. Tudo o que há em mim constantemente parte de uma dor intensa, ininterrupta, como a mente de quem vos escreve. Eu senti a dor da existência desde a tenra infância, mas tinha a imaginação irreal, fantasiosa para fugir da realidade. Hoje em dia eu já não sei bem o que é real e o que não é, mas ouso pensar e somente pensando venho a esquecer a dor e a esquecendo eu subo e elevo o meu ser, elevo-me ao mais alto pico das mais altas montanhas. Todos os clássicos que leio ou virei a ler são para mim como estrumes do que virei a me tornar, eu sou, pois, uma improbabilidade catastrófica, é como me julgam. Assim, com toda a subjetividade daqueles que me julgam a minha volta ouso acertar em meu erro ou pretenso, rebelde e subversivo erro de ser. Eu não sou um homem, eu sou um deus, um deus do meu próprio mundo, um deus da minha própria individualidade, um deus a guiar-se pela sua vontade, apenas sua vontade. Eu não tenho medo nesses momentos, pois julgo que ser a si mesmo é a maior das virtudes, nada mais vale, que não pertencer a si mesmo. Pois o que seria do homem que morre para si? Um morto a viver para outros? E o que homem seria, se não ter elementos distintos em relação entre si e com outros que lhe constitua como um eu "indivisível" e único? É aí que o denominamos "indivíduo". Penso que o meu eu é multiforme, pois não me identifico com nada especificamente, na realidade me identifico com tudo, até com as coisas mais improváveis e absurdas. Não há, pois, para mim um valor qualquer que seja favorável a um objeto qualquer, pois para mim tudo é variável desconexa, sem princípio de linearidade _ que não seja formal _ e sem lei de causa e efeito, digo, para mim nenhum objeto por definição ou pelo ambiente/espaço amostral implica outro, seria uma nítida estupidez, meu caro ouvinte, dizer que algo implica algo por dinamismo ou outra coisa qualquer, é o mesmo que dizer que as coisas se comunicam, estão em inter-relações, mas nada garante que apenas o nosso cérebro, esse órgão demasiadamente grande não esteja nos enganando com a sua procura de continuidade, até na física, vejamos, não há toque entre superfícies, pois há a repulsão eletrostática. Então como poderia tu dizer-me que as coisas aleatórias produzem efeitos ordenados sem haver causa e efeito por não haver, sequer, contato e continuidade que não formal? Até o espaço para mim parece demasiadamente abstrato e assumi-lo parece-me um equívoco, como fundamentar toda uma casa em uma intuição. Para mim parece tão irreal quanto a paixão, o leitor poderia vim a se perguntar, mas que há de irreal na paixão pelo amor de Deus? Vos direi, pois, a paixão é dos efeitos o mais real, parece, por vezes, mais físico que a dor e ao mesmo tempo é o mais delirante dos fenômenos psíquicos, pois a sua fundamentação real, ou melhor, naturalista, é tão somente as suas descargas de neurotransmissores e hormônios para o acasalamento, no intuito _ a natureza _ de alcançar a reprodução. Tudo o mais é imagem, representação e como toda representação não consciente, digo, derivada de uma intenção, está totalmente submetida aos elementos básicos de minha experiência como sujeito, que são as somas dos elementos fundantes dos objetos constituídos, tirando aqui dos objetos básicos o gênero "relações básicas". Ou por outra, tendo apenas os elementos básicos até o objeto como total, como representação intencional ou não (pathos), e os objetos unitários, que não tem partes menores o constituindo (como elementos ou tipos distintos), como as partículas elementares, a nossa hierarquia é apenas de elementos para indivíduos e de indivíduos para classes. Perguntas, o que viria a ser a verdade do objeto? Respondo-te, a correspondência por congruência e/ou correlação entre uma declaração ou proposição e o objeto, pois declarar (falar) algo sobre um objeto é emitir a partir de juízos uma sentença, ou proposição acerca dele. Porém, como poderia saber se há correspondência entre os signos em palavras (com o significante _ conforme Saussure _ ou não) e as propriedades do objeto, ou melhor, como saberia se a lógica das relações predicativas (também conforme a sintaxe) que trazem a tona uma dada significação estão em ressonância com o objeto, se não há relações entre os elementos? E a resposta é, não há, por isso devemos assumir, a priori, formalmente _ com um objetivo metodológico investigativo _ que há. E a partir dessas relações trazemos de novo à tona o princípio da continuidade, do contato e, por conseguinte, a lei de causa e efeito, pois muitas vezes o objeto que estamos conceituando apresenta-se como ordenado e consistente. Declarar algo a respeito de uma coisa é, mesmo que momentaneamente, fechá-la em um todo coeso. E fechá-lo em um todo coeso não é isolá-lo de outros objetos, tendo em vista que, desde a sua fundamentação assim não o é, assim, as suas relações com os outros se dão desde a sua própria constituição, assim como a implicação que o espaço conjuntamente com a lei de causa e efeito, que depende do movimento, faz, isto é, o dinamismo dos objetos. Assim, para conceituar tudo isso, a realidade e a verdade do objeto, faz-se necessário conceituar em um todo coeso esses "todos menores", isto é, os objetos. Assim sendo, esse todo deve ser por definição maior e sendo o menor consistente, deve ele também ser, eis o nosso sistema.

15 de janeiro de 2023

~ Partes implicant totum.

Darach
Enviado por Darach em 23/05/2023
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