Não está lá
Muito provavelmente, se for de seu interesse, você conhecerá alguém que fará com que seu coração pulse de uma maneira diferente. Ou talvez já o tenha encontrado e, assim, já viva uma história de amor. Fato é que todos que tiverem o desejo e a inclinação conhecerão alguém a quem amar, com quem descobrirão os segredos do amor, com quem aprenderão um pouco sobre o mais nobre de todos os nobres sentimentos humanos! Entregarão seu coração. Suspirarão apaixonados. Alguns até escreverão poemas inspirados no objeto de seu mais verdadeiro amor. Farão demonstrações. Surpresas. Aquilo que estiverem ao alcance de suas mãos para que o outro lhe dê um sorriso que afirme e confirme que a história que vivem não é coisa de filme, novela ou livro, mas coisa da vida real. E vocês irão seguir em frente. Juntos. Amando-se.
Apenas não permita que o amor acabe.
Porque temos uma postura bastante equivocada diante da vida. Achamos que as coisas são eternas. Não que tenhamos essa crença de maneira consciente e então a vivemos deliberadamente. Não é isso o que quero dizer. No fundo sabemos que tudo está fadado ao fim, ao ponto final, ao inevitável término que a vida impõe. No entanto, mesmo sabendo disso, vivemos como se não tivéssemos sido avisados. Colocamos na cabeça que o fim está separado de nós por muitos e longos anos daquilo que queremos viver. Mas sabe aquela história de que querer não é poder? Pois é. Mesmo querendo viver as boas coisas da vida eternamente, não poderemos alcançar tal maravilha.
Despreocupados quanto ao fim das coisas, pouco nos esforçarmos por mantê-las vivas, significativas e interessantes. Principalmente quando se trata de amor. Porque não basta dizer “eu te amo” apenas uma vez. Não basta pedir em namoro e, então, diante do “sim”, selar o compromisso com um belo beijo apaixonado. Também não basta diante de centenas de pessoas firmar o compromisso do casamento para que o amor viva e sobreviva. Nada disso adianta. Importa apenas que nos empenhemos por fazer esse amor funcionar dia após dia. Porque seremos confrontados por obstáculos. Dificuldades baterão na nossa porta. Desafios repletos de enigmas serão postos à mesa para que, em conjunto, o resolvamos. Porque amar é um verbo. E verbos designam ações. Logo, amar é um ato que precisamos exercer a cada amanhecer e em todo anoitecer.
Muitos, contudo, não despertam para o fato de que precisam fazer o amor funcionar. E não se importam em cuidar dele. Começa a surgir o desinteresse, que cede espaço à impaciência, que logo abre as portas para a falta de compreensão, que termina por cessar os diálogos, que faz de dois amantes apaixonados de outrora em completos desconhecidos de agora. É quando o amor acaba. Acaba porque não houve comprometimento. Acaba porque não houve desejo por fazê-lo durar, se não pela eternidade, ao menos pelo tempo que nos fosse possível.
Sem dizer que a nossa história de amor também pode se encerrar com a partida daquele que amamos. A vida, para eles, ainda que cedo demais, pode simplesmente chegar ao ponto final e, então, teremos que seguir adiante sem aqueles aos quais um dia afirmamos serem a razão de nossos mais espontâneos sorrisos. Restará a dor da saudade. Não apenas isso. Poderá restar a dor do arrependimento quando nos dermos conta de que não vivemos esse amor com a grandeza que ele merecia.
Não importa qual seja o caso, fato é que ao caminharmos por ruas e avenidas, ao assistirmos ao descansar e ao ressurgir do sol, ao sentirmos a brisa tocar nosso rosto, ao contemplarmos uma flor pequenina brotando em nosso jardim e ao nos deitarmos em nossa casa, veremos aquele que um dia amamos. O veremos por toda parte e em todo momento. Principalmente quando o sentimento foi verdadeiro, foi genuíno e só acabou porque não soubemos como alimentá-lo. Talvez as estruturas tenham desmoronado, mas o sentimento permaneceu, porque o sentimento sempre permanece, possa ou não ser vivido, o sentimento, se verdadeiro, sempre permanece.
Veremos aquele que amamos, mas a quem estaremos impedidos de ter ao nosso lado, por toda parte. O veremos no pôr-do-sol, o veremos na chuva, o veremos no mar. Mas ele não estará lá. Estarão apenas as memórias que construímos ou as projeções de memórias que deixamos de construir. Estarão as lembranças que cultivamos ou os devaneios de experiências que juntos poderíamos ter compartilhado. Mas ele não estará lá. Veremos o seu sorriso, mas não será ele. Ouviremos a sua voz, mas não será a dele. Sentiremos o seu perfume, mas estaremos apenas sendo enganados por nossa própria mente. O veremos por toda parte, mas ele estará em lugar nenhum.
Antes que isso aconteça, valorize o seu amor. Se esse sentimento que pulsa aí dentro é verdadeiro, íntegro e sincero, demonstre-o, expresse-o, permita que seja manifestada toda a sua gratidão por ter a oportunidade de vivê-lo. Cuide para que ele jamais diminua. Cuide para que ele se mantenha aceso e fortalecido. Cuide para que não precise olhar no horizonte e se contentar com a ilusão de contemplar um rosto que, na realidade, gostaria de tocar. Cuide para que quando os toques forem inevitáveis, as sensações retornem pelas memórias que soube construir com aquele que tanto amou.
(Texto de @Amilton.Jnior)