Na ponte de Pirituba
Quando o ônibus de viagem passou por debaixo daquela ponte, pude ver uma mulher debruçada olhando lá do alto a rodovia. Estaria flertando com a morte?
O que estava pensando? Que sonhos deixou de realizar? O que era tão insuportável a ponto de pensar em se jogar?
Era em Pirituba, bairro periférico de São Paulo, onde sonhos são esmagados e onde se acorda as 05:00 da manhã para a labuta.
Como sei? Sou de Pirituba e conheço quem já se jogou dali, um colega de escola, jovem, desiludido.
Sou aquela mulher olhando a rodovia sem entender direito o que a vida fez de mim. Vendo os carros passarem, ouvindo o som dos motores ao longe.
É preciso forças para escalar o parapeito, muita coragem para pular, mas contemplar a vida exige mais força ainda.
Não se jogou, tenho certeza, porque o céu estava azul.