Na ponte de Pirituba

Quando o ônibus de viagem passou por debaixo daquela ponte, pude ver uma mulher debruçada olhando lá do alto a rodovia. Estaria flertando com a morte?

O que estava pensando? Que sonhos deixou de realizar? O que era tão insuportável a ponto de pensar em se jogar?

Era em Pirituba, bairro periférico de São Paulo, onde sonhos são esmagados e onde se acorda as 05:00 da manhã para a labuta.

Como sei? Sou de Pirituba e conheço quem já se jogou dali, um colega de escola, jovem, desiludido.

Sou aquela mulher olhando a rodovia sem entender direito o que a vida fez de mim. Vendo os carros passarem, ouvindo o som dos motores ao longe.

É preciso forças para escalar o parapeito, muita coragem para pular, mas contemplar a vida exige mais força ainda.

Não se jogou, tenho certeza, porque o céu estava azul.

Observadora de mim
Enviado por Observadora de mim em 13/05/2023
Reeditado em 01/09/2023
Código do texto: T7787621
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