VOCÊ É O QUE ACREDITA
A vida começa a me testar antes mesmo do desjejum. Algo me sussurra que nada vai dar certo. Levanto-me. No espelho, encaro o rosto de um derrotado. Cuspo na pia os restos da praga de ontem. Respiro fundo, ergo a cabeça e tento me encontrar no reflexo dos meus próprios olhos.
Saio. No bolso, dois envelopes: SIM e NÃO. No primeiro conflito, escolho o SIM. E assim, de novo e de novo… A previsibilidade me prende em um ciclo chato e entediante. A sirene toca. Hora de voltar para casa. Meus passos refazem o caminho como se o tempo corresse para trás. Minha postura, encurvada, é desenhada no chão, silhuetando aquela tarde morna.
Entro pela porta principal. É quando noto que um dos envelopes sequer foi aberto. Um paradoxo, já que este mundo sempre foi bruto, trogloditário. Caio na cama e durmo. Amanhã será apenas mais um dia dentro do mesmo dia. Até que eu resolva enfrentar o medo silencioso de não ser outra pessoa, sabendo eu quem sou.