Tempos que não voltam

Eu não vou me lembrar com exatidão, mas recentemente assisti a um vídeo de Rubem Alves em uma espécie de entrevista que deu. Sei o quanto seus pensamentos são repletos de sabedoria e inspiração, mas este em especial me chamou a atenção. Ele disse, utilizando outras palavras, que é inútil desejarmos voltar aos lugares dos quais partimos porque não estaremos à procura do lugar, propriamente, mas do tempo que vivemos nele, e esse tempo já não existe senão em nossas memórias. Achei tão significativo e verdadeiro esse pensamento porque ele conversa com muitos de nós que, olhando para o passado, sentem saudade de algo que viveram. Às vezes não é permitido, mas em tantas outras acontece que essas pessoas voltam àqueles antigos lugares, mas acabam frustradas, decepcionadas, porque não encontram o que um dia lá deixaram. E não encontram porque o tempo era outro, o tempo agora é diferente. O tempo não existe mais senão em nossas recordações.

Que possamos levar esse aprendizado para as nossas vidas! Às vezes terminamos um relacionamento, por exemplo. Mas aquela relação era agradável e era primorosa. Era. Por alguma razão, no entanto, precisamos nos afastar, seguir por caminhos distintos, diferentes, seguir nossas vidas separadamente. Saudosos, quando o tempo passa, tentamos por uma reaproximação, por uma reconexão, por uma nova ligação. No entanto, quando voltamos ao mesmo lugar de outrora – ao mesmo coração no qual um dia moramos –, nada parece ser como um dia foi, não desperta mais as mesmas emoções, não nos oferece mais os mesmos sentimentos. Isso porque os tempos são outros. Os lugares podem ser os mesmos. Mas nós, em nosso íntimo, estamos diferentes. Mudamos. Os tempos mudaram. E aqueles tempos passados existem apenas em nossas lembranças.

Não que reencontros restauradores nunca possam acontecer.

Só não podemos viver em função de reconstruir o passado.

O importante é que estejamos aqui, no nosso lugar, vivendo o nosso tempo, conscientes do fato de que este tempo também passará, também acabará, também chegará ao seu fim. Como nos lembraremos dele? O que teremos como consolo nos dias de saudade? O que, deste lugar no qual provisoriamente estamos, levaremos conosco para o alguém que um dia seremos? Que histórias teremos para contar? Que aventuras a compartilhar? Que lições a propagar? Lugares antigos podem não oferecer sentimentos antigos. Porque não é sobre o lugar. É sobre o tempo que vivemos naquele lugar. Faça do Agora o seu melhor tempo!

(Texto de @Amilton.Jnior)