Em tempo de insensatez

Em tempos de insensatez, nada mais faz sentido. Cada qual, amparado apenas nas próprias, e quase sempre, frágeis certezas, institui verdades sem lastro na realidade; são construções mentais que beiram às alucinações. As coisas perdem suas características, amizades se esgarçam, e se desgastam, em nome sabe-se lá do que, para ao fim de tudo restar somente lamentos. Tudo se dilui e escapa pelos dedos das mãos como se nada tivesse importância. Nada mais resiste, nada mais impede que a estupidez, a vilania, a torpeza, todas juntas e mais a possibilidade do ataque físico, tudo faz o edifício do bom senso ruir como um castelo de areia. Tudo implode na mais melancólica dor. Nada se sustenta quando o alicerce não está bem assentado, quando, como se apoiado sobre frágeis estacas de gravetos.

Perdem sentidos as palavras, perde significado o tempo pretérito, o tempo passado, vívido e vivido como outrora aconteceu.

Ao presente que resta, nada mais se solidifica, nada mais permanece. Como a água que corre pro mar, sem certeza se ao oceano chegará ou se esgotará no primeiro Ice Berg, também o presente que não se solidifica, tudo pode acontecer, tudo pode ruir.