Um caminho árduo

A única coisa que penso, neste momento, é sobre a solidão que me invade e me maltrata a alma.

Faço tudo o que preciso, o que quero e o que posso mas, algo me falta.

Percebo que vivi em um calabouço, onde fui acorrentada a um falso conservadorismo e a uma oportunidade de fuga desse mesmo cárcere.

Encontrei, o que pressenti ser uma saída, todavia, com o que me deparei foi a completa escravidão a partir do primeiro momento em que a aceitei.

Uma servidão de diversas formas e maneiras me foram impostas. De abusos e dependências. De violências emocionais e financeiras.

Foram anos adoecendo por não ter força e coragem de me rebelar. Foram inúmeras doenças e mazelas que deixaram, em meu corpo e em minha mente, cicatrizes e marcas profundas

Perdi muito mais do que isso. Perdi a minha dignidade.

Certo dia, os grilhoes foram estilhaçados pelo Poder Superior e saí do mar de lama em que me coloquei e onde me encontrava.

As circunstâncias me levaram então, a retornar ao meu antigo calabouço. Eu não sabia viver livre. Eu não conhecia outra realidade a não ser esta.

Porém, agora, este não era tão gélido e escuro, mas, continuava demasiadamente profundo.

Desta vez, não me foram acorrentados os punhos e os tornozelos, mas, prenderam-me pela falsa convicção de que tenho responsabilidade pelo bem estar dos donos da prisão e pelo pseudo calor que me dariam caso eu me mantivesse submissa.

Diria que, nesta fase, notei os esteriótipos dos algozes, velados pelas chantagens emocionais, provocando em mim culpa e um real aprisionamento, quase que voluntário. Felizmente, pelo sofrimento exacerbado, eu consegui notar a tempo e não me enganei e não me violentei ainda mais.

Perguntei-me novamente, o que me restava então, além da solidão.

O que me restava além de entender e compreender que os ciclos acontecem para que haja um aprendizado?

De nada adiantavam murmurações e lamentações, pois, só o que se pode fazer é encontrar meios de libertação dos pensamentos e sentimentos que dão munição a esses comportamentos sabotadores e destrutivos.

A solidão está em, sozinha, buscar fugir desse caminho tão conhecido por mim e que afinal, aprendi desde tenra idade, e me era cobrado durante as vinte e quatro horas do dia.

Nesta luta incessante, o que mais me importava, num primeiro momento, era recuperar a minha dignidade como ser humano.

Passaram-se o equivalente a oitocentos dias e, esta primeira meta, começou a ser cumprida.

A primeira vitória foi dizer "não".

Foi um "não" tímido e carregado de medo.

Um "não" solitário e ingênuo, mas, um "não" com todas as letras e acento.

A cada "não" proferido, um degrau era conquistado rumo ao meu "eu" verdadeiro.

Um caminho solo, como protagonista e repleto de descobertas e aventuras.

A cada "não" dito, estava acrescentando um pouco mais de amor e respeito por mim.

Descubro então, com muita satisfação eu confesso, que, o que me faltava era eu...eu mesma! Agora, percebo que já não sofro mais de solidão.

Tenho a mim e tenho o Poder Superior ao meu lado.

Tenho a vontade de continuar subindo, degrau a degrau rumo a liberdade e a felicidade.

Bia Fernandes
Enviado por Bia Fernandes em 30/04/2023
Código do texto: T7776841
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