Desventura
Subia as minhas entranhas esmagando veias e órgãos, até o majestoso coração. E o afagou tanto que o sentir era de dor. Uma dor que se expandia aos arrepios, aos pensamentos sórdidos, os dentes firmes, refletindo tanto ao ponto que não era mais possível conter os músculos que mesmo presos a pele, palpitavam incessantemente.
Era você, era eu.
Era eu.
Erra, ao enriquecer vestígios, ao querer reunir o mar em uma peneira, ao tentar se quebrar em formas geométricas. O gatilho de uma arma que não está carregada. A gana de nadar no deserto. As notas doce de um vinho que já azedou.
A perspicácia não cabe a um ser entediado, que trilha o caminho que sabe de cor e salteado. Sentir dor é mais importante que sentir nada. O vazio assusta, cala, gela. Por mais que no vazio seja rei, nenhum rei se faz digno sem súdito, sem o seu bobo da corte. Mas que só é rei por não tê-los. Paradoxos da inevitável vontade de ser, de existir, da forma que seja.
Derramando, transbordando a insegurança habitual dos não validados. Que em alguma pedra ancestral esteve escrito que se provem com amor. O amor qual o conhecemos, nos habituamos, aceitamos. Sem questionar, a hipnose da emoção, a ausência de razão.
Faz parte dentre essas e outras que na leitura são mais triviais do que vivê-las.