Caminhar das Conchas
Nesta praia outro dia andei
Vejo agora que não é o mesmo mar
Não é a mesma areia
Encontrei pinaúnas mortas, só os cascos.
Peguei com tanto cuidado... Nem todas resistiram
Eram frágeis demais.
Nesta mesma praia, hoje vejo conchas do mar...
São cascalhos de conchas
Que encostando aos meus ouvidos
Busco o que ela desgastadas querem me dizer
Mas minha mente só escuta o som das ondas
E não reconhece este silêncio
Por isso sempre estou de volta
Para buscá-las de qualquer forma e formato
É um sentimento nosso.
Cada concha tem sua singularidade
Particularidade e especialidade
Cada uma traça o seu caminho assim como nós
É a resistência, que forma a sua carapaça
Em camadas que vão se cristalizando.
Todas as conchas têm os seus antepassados
Os ecos do passado seguem com cada história.
Vejo amor, corações diferentes, e não partidos.
Em cada caminho que se forma
Fica tudo cravado e guardado
Também em mim, em minha história.
Parecem feridas abertas que resistem
A cada vai e vem das ondas.
A água batendo nas pedras, elas chegam até a areia
Fica na areia gravado a sua marca
O desenho é formado quando pego cada uma delas.
E a próxima onda que vem no mar,
Apaga as marcas na areia
Onde serão traçados outros caminhos.
As ondas passadas não voltam
Não precisa também ter pressa
Nem o maior pescador que vive sempre a remar
Não percebe que as conchas mudam o seu posicionamento
Nessa hora o mar não é traiçoeiro
Vai trilhando outro caminhar...
Ilha de Itaparica 12/03/2023