Naufrágio
Naufragaram-se os sentidos na imensidão de minha alma. Morre minha expressão pela profundidade de meu ser. A embarcação que deveria me suster, ó corpo, já não é suficiente.
Que tenho eu a ver com esse navio, se sou toda a infinidade que o contorna, que o carrega, e o subjuga, eventualmente?
Eis que tal eventualidade acometeu-se-me, e tornei-me, fatalmente, a imensidão que outrora neguei-me a aceitar.
Agora faz-se por conta própria a dona de minha aurora, e o que me resta é, por ora, enfrentar os dias inexpressivo.
Vós sabeis que as águas mais profundas carregam os mais tremendos monstros que, em verdade, alguém pode encarar.
Encarei sempre a terrível realidade desses seres, mas covardemente, os preferia esconder. Nunca fui mesmo este corpo, e agora não demorará o dia em que eu volte a expressar.
Mas será de maneira distinta, e nunca antes vista, pois serão os tais monstros profundos quem deste corpo irão se apossar.