Naufrágio

Naufragaram-se os sentidos na imensidão de minha alma. Morre minha expressão pela profundidade de meu ser. A embarcação que deveria me suster, ó corpo, já não é suficiente.

Que tenho eu a ver com esse navio, se sou toda a infinidade que o contorna, que o carrega, e o subjuga, eventualmente?

Eis que tal eventualidade acometeu-se-me, e tornei-me, fatalmente, a imensidão que outrora neguei-me a aceitar.

Agora faz-se por conta própria a dona de minha aurora, e o que me resta é, por ora, enfrentar os dias inexpressivo.

Vós sabeis que as águas mais profundas carregam os mais tremendos monstros que, em verdade, alguém pode encarar.

Encarei sempre a terrível realidade desses seres, mas covardemente, os preferia esconder. Nunca fui mesmo este corpo, e agora não demorará o dia em que eu volte a expressar.

Mas será de maneira distinta, e nunca antes vista, pois serão os tais monstros profundos quem deste corpo irão se apossar.

Giuliani
Enviado por Giuliani em 14/04/2023
Reeditado em 14/04/2023
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