A simplicidade do amor
Amar. É complicado amar? É trabalhoso amar? É enfadonho amar? Algumas pessoas podem considerar amar alguém como sendo uma tarefa difícil e desafiadora. Concordo que o amor não é superficial para que o tratemos de qualquer jeito, para que o vivamos de forma desleixada, para que, de maneira completamente despreocupada, o “empurremos com a barriga”. Não. O mais nobre dos nobres sentimentos não pode ser vivido de qualquer maneira, como coisa banal, como aquelas experiências superficiais que há na vida. No entanto, o mais nobre dos nobres sentimentos, apesar de toda a sua nobreza, também não se faz tão exigente quanto alguns pensam, ele não é dado aos luxos, nem às grandezas, exatamente porque o mais nobre dos nobres sentimentos não é coisa de carne, é coisa de alma, e coisa de alma possui uma simplicidade tremenda que dinheiro nenhum no mundo é capaz de pagar.
“Quando amamos, o simples ato de lembrar já é admirar” (Fabrício Carpinejar)
Então, não, para amar não precisamos de muita coisa. Você não precisa oferecer a conquista do Universo para aquele ou aquela que é conquistou o seu afeto, o seu carinho, que tem nas mãos o seu coração. Assim como não precisa prometer vida de rei ou rainha. Para o amor, o amor verdadeiro, incondicional, livre de interesses humanos, nada disso importa, porque não são essas coisas que o sustentam, não é a riqueza da materialidade humana que faz o amor sobreviver. Seu combustível está na simplicidade, na sutileza, nos detalhes, nas entrelinhas, naquelas coisas quase imperceptíveis que talvez os olhos não sejam capazes de ver, mas a alma é capaz de sentir. Você só precisa ser grande o bastante para, através da simplicidade, demonstrar seu amor.
Carpinejar, na frase citada, avisa que apenas lembrar já é admirar. Existe coisa mais simples do que lembrar daquele ou daquela que tanto amamos? Se o sentimento é verdadeiro, é genuíno, é sincero, acredito que lembrar é a mais fácil das tarefas e esquecer é que é difícil. Mas não basta lembrar. Não sejamos superficiais diante do mais nobre dos nobres sentimentos. Como é que demonstramos essa lembrança? Como é que expressamos que o outro ou a outra esteve dentro de nossas recordações enquanto estivemos tão distantes? Não. Não precisamos chegar em casa com um carro novo para dar de presente. Isso não garante o amor. Garante sentimento de gratidão, talvez. Mas aqui não estamos falando sobre serem gratos a nós, estamos falando de amarmos e sermos amados.
Demonstrar que lembramos também é simples e pode ser corriqueiro no sentido de tremendamente possível em meio às turbulências de nossa rotina por vezes exaustiva. Uma ligação basta. Uma mensagem de texto é suficiente. O envio de um simples buquê de rosas também é uma demonstração grandiosa a quem ama de verdade. É um jeito de falar que o outro ou a outra foi lembrado, foi recordada, esteve presente nas mais afetivas de nossas memórias. Você tem demonstrado a quem ama o quanto ele se faz presente dentro de você?
Infelizmente, no entanto, muitos não conseguem compreender a simplicidade do amor e não percebem que a partir de gestos tão singelos podem fazer a mais altiva das declarações. Não percebem que para tocar a alma de alguém não importa se somos milionários ou se precisamos nos desdobrar para sobreviver com um salário mínimo. Tocar a alma de alguém exige apenas que nós sejamos, também, uma alma. E para as almas as riquezas humanas não importam. As riquezas humanas não as tocam. O que toca as almas são coisas singelas, palavras suaves, olhares sinceros. O que toca a alma é revelarmos ao outro, demonstrarmos à outra, que nossas vidas não poderiam ser as mesmas sem aquela existência que tanto amamos. Porque o amor verdadeiro é mais do que amar a presença. É amar o fato de saber que aquela pessoa existe. A amar a existência é simples. É sutil. É delicado. Não precisamos de um jatinho particular. Precisamos apenas de sermos uma alma que, aliviando-se do próprio ego, consegue permitir-se ao encontro genuíno com quantas almas estiverem disponíveis ao mesmo amor.
Eis a complexa simplicidade do mais nobre dos nobres sentimentos.
(Texto de @Amilton.Jnior)