INCLUIR PARA EXCLUIR...
Talvez, perceber que a melancolia nas pessoas deprimidas se caracteriza por um desânimo profundamente penoso, uma cessação de interesse pelo mundo externo, pela perda da capacidade de amar, pela inibição de toda a produtividade e uma diminuição dos sentimentos de autoestima – “sentimento de estima de si” – a ponto de encontrar expressão em se recriminar e em se degradar, culminando ainda numa expectativa delirante de punição. O melancólico representa seu “eu” como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível. Na melancolia, há uma identificação narcísica com o objeto, o que explicaria a tendência ao suicídio.
É justamente quando o sujeito se acovarda frente ao seu desejo, dele abrindo mão, que surge a depressão. Podemos dizer que o sujeito fica inibido, furtando-se ao próprio desejo e, consequentemente, a sua determinação inconsciente. A depressão é, portanto, uma reação do eu, que, ‘inchado’, recusa aquilo que vem do inconsciente, não querendo saber daquilo que o determina.
Ao mesmo tempo em que aparentemente acolhe o sujeito, que se agarra a tal significante, tomado aqui mais como signo, irá excluí-lo, já que a depressão contraria os ideais de produtividade da nossa cultura. Ou seja, da mesma forma que há uma exclusão pela própria cultura, o sujeito sente-se incluído, protegido através desse signo, a depressão. Tal fato demonstra claramente como opera, de forma paradoxal, o discurso que “incluir para excluir”, propiciando uma aparente proteção, deixando o sujeito desorientado em relação a sua riqueza maior, o seu desejo.