Vida interessante

Você quer uma vida feliz? Contardo Calligaris estava mais preocupado em ter uma vida interessante:

“Eu não quero uma vida feliz. Eu quero uma vida interessante”

Mas penso comigo que, ao preferir uma vida interessante, Calligaris já sabia que teria uma vida feliz. Porque interessante é aquilo que interessa. E interessa aquilo que atrai nossa atenção. Atrai nossa atenção aquilo que, de alguma forma, nos toca em nosso íntimo. E toca em nosso íntimo algo que é capaz de nos proporcionar felicidade. Então optar por uma vida interessante quer dizer escolher uma vida na qual as experiências nos interessam, atraem nossa atenção, tocam-nos em nosso íntimo e, assim, nos proporcionem felicidade. Ao invés de buscar por uma vida feliz, ouse procurar por uma vida interessante.

E o tempo que temos é curto para correr atrás da felicidade que vendem por aí. Porque, em muitos casos, ansiosos por uma vida feliz, deixamo-nos guiar pela definição que dão à felicidade, pelas exigências que dizem ser as únicas possíveis e compreensíveis para uma vida feliz. No entanto, muitos desses itens nada tem a ver conosco, com nossas aspirações sobre a vida, com aquilo que de fato nos interessaria, atrairia nossa atenção, tocar-nos-ia em nosso íntimo e, assim, proporcionaria a verdadeira felicidade. Sonhos que não nos pertencem. Metas que nem traçamos. Objetivos para os quais nem queremos nos dirigir. Mas que, rotulados como o “caminho para a felicidade”, acabamos perseguindo sem qualquer crítica ou razão.

Ao passo que quando optamos por uma vida interessante, que nos interesse e que, assim, nos agrade, pouco nos importamos com as definições das outras pessoas. Estamos mais preocupados em ocupar nosso efêmero tempo com aquilo que realmente tenha algum valor e algum significado para nós, que nos faça algum sentido, que nos proporcione aquela sensação de que valeu a pena. Não quer dizer que viveremos diariamente nesse êxtase por fazer coisas que nos interessam, exatamente como querem aqueles que perseguem uma ilusória felicidade. Quer dizer que, ao invés de perdermos tempo com coisas banais, estaremos ocupados com coisas essenciais a quem somos, a quem existimos, a como, naquele instante, nos constituímos.

A consequência de buscar por uma vida interessante, recheada por experiências que tenham a ver com a descoberta que fizemos sobre nós mesmos ao mergulharmos em nosso interior, é uma vida feliz. Não aquela felicidade entorpecente, dependente, sem a qual pensamos não ser possível existir uma vida. Mas uma felicidade branda, natural, normal. Aquela que não se sobrepõe às dores da vida quando estas forem necessárias. Aquela que, em meio às dores inerentes da existência, servirá de esperança sobre os dias vindouros.

(Texto de @Amilton.Jnior)