Enchente

Ele era jovem, estavamos na mesma antessala de um consultório médico com muita gente. De repente a indignação dele superou quaisquer constrangimentos e ele passou a falar das enchentes no país, e, principalmente da culpa daquelas gentes (da periferia, bairro?), seus vizinhos. E falava bem. E as cabeças na sala sacudiam vigorosamente um sim em concordância à crítica dele.

Mas uma mulher, ao ver aquela entrega de cabeças 50% inocentes à outra classe quase 100 % culpada pelas enchentes, fez um esforço e com uma voz tranquila, falou: “-meu querido, poderíamos todas-os sermos cidadãos melhores, se aprendêssemos a destinar corretamente os resíduos sólidos'”. "-Mas não é só isso! Há um conjunto de ações: tem que haver políticas habitacionais; preservação de matas ciliares; combate à erosão e sedimentação dos rios; limpeza e conservação dos cursos da água, dentre outros.-" O rapaz concordou prontamente com a senhora, no entanto, voltou a reforçar a culpabilidade “do pessoal”, infelizmente reforçando sua fala anterior.

Uma segunda voz nesse sentido veio de uma moça que contou sobre uma experiência de uma ação beneficente de cuidar das plantas da praça, e ter conseguido um maior número de lixeiras. Porém, relatou que foi em vão, a população não aderiu.

Mais uma gez a senhora imediatamente, mediou, dizendo “-se você incluir o povo na limpeza, organização, da pracinha, eles vão cuidar-”. Sem dúvida ela estava certa. Um dia de festa no bairro. Um suco, um pedaço de bolo, música, quem sabe um “prata da casa”, destinação de responsáveis da semana pela limpeza da praça. Seria uma excelente tomada pelo povo de seu lugar.

Quando o rapaz saiu da consulta e foi embora, ele cumprimentou todos-as, e a senhora falou alto: “-Puxa, que maravilha, vamos salvar esse mundo-”, ao que ele respondeu: “-esse é o plano-”.

As nêsperas

E as laranjas

E as peras,

Tão doces!

É verão!

Não! É outono!

Está meio confuso.

Há enchentes por todo canto, e nem é período chuvoso!

Um sol de rachar

Que finda a tarde, não aguenta

e o céu desagua bravo.

E os cursos de água transbordam.