O preço da impaciência

A gente não aprende. Não tem jeito... Quando crianças, lá pelos nossos oito, dez anos, percebendo o quanto de coisas legais poderíamos fazer, como dormir mais tarde ou andar de bicicleta com os nossos amigos durante a noite, mas que nossos pais não deixam, batemos o pé, esperneamos, fazemos todo um drama e, sentindo-nos tão aprisionados, vociferamos que não vemos a hora de nos tornarmos adultos para termos a nossa independência. Falamos isso sedentos pela chegada da adolescência. Quando imaginamos que estaremos um pouco mais velhos como os nossos primos que já têm barba ou nossas primas que já podem namorar e, então, poderemos usufruir dessa aparente liberdade.

A adolescência, enfim, chega. Ganhamos alguma liberdade, é verdade. Ao menos quando temos pais razoáveis que compreendem que não podem nos prender tanto para que consigamos desenvolver a nossa autonomia. Mas além dessa ainda pouca liberdade da qual podemos usufruir, precisamos lidar com aquelas incertezas do ser adolescente. Quem somos? O que queremos? Do que gostamos? O que faremos? Como seremos no futuro? Com quem queremos andar? Por quais pessoas seremos aceitos? Por quem iremos nos apaixonar? E além de todas essas incertezas, nem mesmo nós conseguimos entender aquelas mudanças repentinas de humor, aqueles acessos de raiva por motivos que mais tarde, mais relaxados, confessamos o quanto eram bobos e irrisórios. Precisamos lidar com as nossas transformações. Às vezes tentamos escondê-las. Mas elas dão um jeito de se manifestarem. É a voz que engrossa. É o corpo que cresce. É a mente que muda. Não somos mais os mesmos e desejamos amargamente por voltar à segurança da infância. No entanto, experimentamos certa esperança. Talvez, quando formos mais velhos, depois dos dezoito, atingido a adulta idade, então seremos realmente livres, teremos paz, saberemos, finalmente, como cuidar da nossa própria vida. E, ainda limitados pela inexperiência de nossa idade, ainda tendo que ser tutelados por pessoas mais velhas, sonhamos acordados com o dia no qual poderemos ir à balada que quisermos e voltarmos para casa no horário que desejarmos. Mal vivemos a adolescência, como, talvez, mal nos apercebemos da nossa infância. Queremos tanto a vida adulta.

Não... Não dá para culpar uma criança pela sua falta de consciência quanto à tranquilidade da infância. Não dá para olhar em seus olhos e, como um verdadeiro palestrante, assombrá-la sobre as experiências do crescer para que, assim, viva completamente seu atual momento. As crianças não compreendem isso. E vivem sua fase como lhes é possível. Sonhando e aprendendo.

Com os adolescentes, ainda tendo o seu sistema de pensamento em formação, ainda compreendendo como o mundo funciona e como é que eles vão se colocar nele, é a mesma coisa. Não podemos convencê-los do quão incrível é a fase pela qual estão passando, afinal de contas estão tendo que lidar com aquelas espinhas indesejáveis que aparecem no dia das festas ou com aquela exigência que fazem a si mesmos por ganharem volume nos músculos que anseiam exibir. Eles não conseguem compreender a adolescência como um momento legal, bacana, no qual ainda são poupados das preocupações da vida adulta. Eles a vivem como podem e a entendem.

O fato é que, quando saímos da adolescência e adentramos a vida adulta, finalmente tomamos consciência do erro que cometemos ao desejar amargamente para que a infância passasse ou para que a adolescência acabasse. Entendemos que naqueles períodos, embora não tivéssemos a liberdade com a qual sonhávamos ou ainda tínhamos que lidar com as mudanças do nosso próprio corpo sobre as quais não possuíamos nenhum controle, não sofríamos as dores do crescer e ver-se, por algum momento, sozinho. Porque a vida adulta não é fácil. Não é tão fácil quanto a infância nem tão descolada quanto a adolescência. Na vida adulta é exigido de nós que tenhamos mais maturidade, que provoquemos menos erros, que tenhamos a noção de que, enfim, somos responsáveis por nós mesmos.

Não que a vida adulta não tenha os seus encantos.

Mas nos anos passados tínhamos algo que nela não encontramos: conexão com o presente.

Porque a criança e o adolescente, vivendo aquele momento no qual se encontram, ainda não contaminados por uma sociedade tão voltada ao futuro, ao porvir, ao será, estão preocupados com o que é, o que está acontecendo, como lidar com os sentimentos que experimentam. Na vida adulta, no entanto, estamos sempre tão preocupados com o amanhã, com os projetos, com os planos, que mal temos tempo de perceber como o hoje está acontecendo. É quando vivemos em permanente impaciência. Queremos que os dias passem logo porque sempre vemos no futuro uma possibilidade de felicidade. Consideramos que o agora nunca tem coisas boas. É sempre no amanhã que queremos viver.

Não aprendemos com o erro que já cometemos anteriormente quando quisemos que a vida passasse depressa. E repetimos esse erro quando, incomodados por algo que nos aflige, desejamos profundamente para que o relógio ande mais depressa e o porvir logo chegue.

Desconsideramos o fato de que apressar a vida nos faz perdê-la. Esse é o preço da impaciência: não viver de verdade.

Você já se sentiu extremamente ansioso ou amargamente preocupada com o futuro? Querendo que ele chegue logo, que aconteça de uma vez, que as coisas passem o mais rápido que for possível? Eu compreendo que em algumas ocasiões essa necessidade é insuperável. Se estamos com o casamento marcado, por exemplo, é claro que acabaremos ansiosos pelo grande dia. No entanto, se ficarmos atolados em impaciências, perdendo o controle e a conexão sobre o presente, quando essas experiências enfim chegarem estaremos cansados demais para as aproveitarmos com completude. A impaciência nos cansa. A impaciência não nos deixa receber os presentes da vida e abri-los com entusiasmo porque boa parte da nossa energia se esgotou em nossa ânsia pelo amanhã.

O convite, então, é para que você viva com mais paciência. Não queira apressar a vida. Sempre fizemos isso e sempre acabamos arrependidos. Penso que podemos aprender com isso e viver cada dia no seu dia, cada instante no seu instante. Não deixe lacunas em sua existência. Caminhe conforme o ritmo do momento. Ande mais devagar quando a vida estiver mais lenta. Acelere os passos quando a vida permitir. E jamais se esqueça de, pacientemente, por ela passar.

(Texto de @Amilton.Jnior, psicólogo)