A mansão e o paulista
sabe, como diria Baltasar Gracián
há muitas pessoas que parecem palácios
mas por dentro de encontram
abandonados e em ruínas
isso se tornou ainda mais nítido
quando me deparei com um certo paulista
que sabia da vida de todos os filósofos
mas de fato não conhecia suas obras
de que adianta falar da boca pra fora
sobre virtudes
se dentro de nós
pecamos em tê-las?
além disso, não seria
total hipocrisia cobrar perfeição
sendo que nós mesmos
estamos em constante evolução?
uma pessoa perfeita, pois
teria espaço para melhorar?
quereria ela admitir, então
que não está no seu auge?
de boca cheia falo que eu sou ruína por fora
e estou, a todo momento
com um balde de massa corrida
dando um trato nas minhas trincas
depois poderei, enfim
passar uma tinta
tinta essa que dentro em pouco
precisará ser revista
mas ao menos estou cuidando
aqui de dentro
que é onde realmente vivo
e não do lado de fora
me vale colocar
mármore na porta de entrada
se por onde minha alma caminha
é terra ocre e fria?
hoje vejo essa pessoa
como uma linda casa em um condomínio luxuoso
mas que por dentro tem
cadeira de palha e solo árido
quer um pouco da minha massa corrida?
minhas lágrimas foram solvente
para a tinta que deslizou lindamente
pelas paredes outrora vazias
talvez se pegar um pouquinho de tinta
de cada um que fez cair lágrimas
consiga colocar vida nessa mansão solitária
que clama por um pouquinho de luz e calor