O tempo não importa
Você acha que, em relação aos momentos que passamos com pessoas que amamos, o tempo importa? Eu acho que não. Não importa se passaremos ao lado delas um minuto, uma hora, um ano ou a eternidade. Isso não importa. Importa apenas a qualidade dessa conexão, a intensidade dessa ligação, a veracidade desse vínculo. Importa que consigamos perceber, um no outro, as nossas particularidades e unicidades. Importa que em nossos encontros saiamos sempre transformados, o que pressupõe que tais encontros serão verdadeiros, genuínos, autênticos. Não importa o tempo que passaremos com as pessoas que amamos. Importa que nessas passagens, as amemos realmente.
“Na convivência o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida. O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida”
Essas palavras, de Mario Quintana, foram a minha inspiração para o parágrafo anterior. Elas dizem uma grande verdade que nos atinge diretamente em nossa alma. Não importa se passaremos muito ou pouco tempo com as pessoas que temos em nossas vidas, apesar que, quando amamos de verdade, sempre desejaremos por uma eternidade que nos envolva. Mas isso não importa. O importante são as marcas que deixaremos nessas pessoas especiais, se causadas por mágoas profundas ou motivadas por refrigérios sutis. O importante é como seremos lembrados, por quais ações seremos recordados, por quais gestos seremos honrados. Importa o que deixaremos quando, no segundo seguinte, precisarmos partir.
E não me refiro apenas à partida da morte, embora essa também seja significativa. Refiro-me às partidas do cotidiano. Como estão sendo nossos últimos encontros? Qual está sendo a qualidade de nossas últimas conversas? Quais são as palavras que temos proferido em nossas despedidas? Como nos separamos? Em quais condições nos afastamos a fim de seguir os nossos caminhos? Uma vez já escrevi por aqui que jamais saberemos quando será, de fato, o último adeus. Mas se tivermos em mente que cada despedida pode ser a última, talvez valorizemos mais aquilo que tratamos como corriqueiro.
Então, sim. Passe o maior tempo que lhe for possível com as pessoas que ama. Mas acima de procurar pelo maior tempo, faça daquele que lhe for palpável o melhor que poderia viver. Coloque vida em seus encontros, traga amor aos seus reencontros. Esteja com aquela pessoa. De verdade. Presente. Consciente. Olhe em seus olhos e veja a sua alma. Permita que ela se desnude. Desnude-se a ela. Revele a sua essência. A sua verdade. Não tenhamos medo diante de pessoas que amamos. Tenhamos medo de perder a chance de construir boas memórias que sirvam de consolo para os dias de solidão.
Não importa o tempo que passamos. Importam as lembranças que construímos, as recordações que deixamos.
(Texto de @Amilton.Jnior)