No vazio da escuridão, dentro do teu manto frio, me desdobro como rio taciturno

Doce amargura, sou tua devota...

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Cá estais; companheira minha de infinitos invernos, verões, primaveras, temporadas, noites e dias. Sagrada companhia, fiel escudeira, leal e amiga. Mansa, ela recebe este corpo enfadonho como uma mãe afável faria.

No eco vazio da escuridão noturna sussurra que tudo bem em deixar ir... derramar enfim o pranto escondido da luz do dia. Com sua voz branda, assegura-me de que não há o que temer, que ali em seus braços não há julgamentos, ouvirá minhas lamúrias incansáveis.

Beija-me a testa com lábios de marfim. É mais que suficiente. Nos seus braços frios de estátua, me derramo assombrada. Me aninho com esta carcaça feita de carne e osso em seus abraços frígidos, e lanço para fora as lágrimas aflitivas oriundas do fundo de minh'alma distante, inquietante.

Neste abraço angustiante que Dona Tristeza me enlaça, permito-me desdobrar em soluços e lágrimas incompreendidas. Diante dela, estou transcorrendo como um rio no meio duma floresta soturna.

Há o dizer de que nossas lágrimas colhidas pelos anjos são, mas as minhas, a Senhora Tristeza é quem o faz. Me embala – noite e dia –, em sua aura glacial desoladora. E conta que existe um lugar onde há um oceano abundante de minhas lágrimas colhidas por suas mãos penosas. Ah, doce amargura! Dona Tristeza, sabes bem que eternamente serei sua fiel devota.

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Ansyel Violet
Enviado por Ansyel Violet em 17/03/2023
Reeditado em 17/03/2023
Código do texto: T7742441
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