Respeito ao luto

O luto é uma árdua e angustiante dor emocional que sentimos diante de uma perda profundamente significativa de algo que nos era, além de importante, por vezes a sustentação de nossos ideais na vida. E, portanto, não pode ser desrespeitado, desvalorizado, banalizado. Aliás, na sociedade em que vivemos muito do que as pessoas têm feito é exatamente isso: banalizar o profundo. Pegaram palavras como empatia, por exemplo, e as fizeram de produtos baratos que se encontram em qualquer feira. Tentam fazer o mesmo com o luto. E isso é perigoso. Não se pode empregar seu conceito para coisas superficiais diante da magnitude que é perder a razão da sua existência, o que dá sentido à sua vida.

A esse respeito, quero alertar para o fato de que precisamos respeitar a dor de quem a sente. Por mais que elas nos pareça desproporcional ou ultrapassada. Às vezes não conseguimos entender como aquela mãe que há dez anos perdeu os dois filhos de forma tão repentina e indesejada ainda sofre a mesma dor, com praticamente a mesma intensidade e magnitude. Não conseguimos entender como ela, em cada ano, no dia de seus aniversários, se comove tanto. Não conseguimos compreender como ela, em todo feriado de Finados, mesmo depois de dez anos, vai até o túmulo com a mesma emoção de quando fora pela primeira vez. Para a nossa limitada, por vezes distorcida, visão, isso pode ser um exagero. Mas perceba que o luto é a perda de algo que significava muito, que simbolizava tanto, que representava o mundo para aquela pessoa! É isso o que acontece. Pessoas humanas, que possuem sentimentos, conseguem se conectar umas às outras ao ponto de encontrarem uma na outra o sentido da própria vida. É claro que se sentiriam como ser tivessem sido destruídas quando precisassem lidar com a indesejável, contudo inevitável, separação.

Se para nós é mais fácil lidar com a dor da perda, ótimo. Que sigamos em frente, avante, reconstruindo-nos como conseguimos. Mas que tenhamos em mente que isso não nos dá o direito de ditar como é que as outras pessoas devem ou não lidar com os seus lutos. Se para nós é mais fácil acostumarmo-nos com a ideia de que nos restará viver apenas com as lembranças daqueles que amamos, excelente! Que sejamos inspirados por aqueles que moram em nós. Mas que isso não nos convença de que temos permissão para tocar em feridas cuja profundidade não conhecemos, cujas sensações não experimentamos. Se diante da dor de alguém não pudermos ser amor, que ao menos sejamos silêncio.

(Texto de @Amilton.Jnior)

- Você pode ler mais sobre luto nos meus livros "A Dor do Amor" e "Quanto Custa o Amor?", disponíveis em meu perfil no Instagram nos destaques "E-books" e "MeusLivros", respectivamente