Miasma

Ainda me pego saudosista

Acenando para um passado que não consegue me ver

Participando de conversas que não me tem como recipiente.

Nem de corpo, nem de espírito presente.

Sequer tenho certeza do que me recordo

Posso inventar qualquer memória

Posso modificar como me porto

Pois não estou mais lá.

O único parâmetro de comparação

Foi desenvolvido por mim

Distribuído por mim

E usado por mim

Ninguém mais quis assim

Pois todos estão lá.

Outra incerteza que carrego

É o porque ainda me enforco com as mesmas cordas

Elas já calçam meu pescoço, desenham seu formato

E se aconchegam no seu agarro

Enquanto lentamente perco meu ar

Mas não morro

Sequer desacordo

Pois já não estou acordado

Enquanto minha mente dispara infinitos cenários

Apenas para me confortar

Para me lembrar que um dia eu importei

E que esse dia se foi

E não volta

Senão como ele se apresenta

Limitado aos meus sonhos,

Por vezes pesadelos;

Por minha insônias,

Olhos abertos,

Cabeça no travesseiro.

São tantas portas

Tantas escolhas

Tantas vivências

Tantas folhas

Que caem e não voltam

Que são brancas e não se apagam

Que são velhas mas não se rasgam

Que já foram tudo

Para tantos

E hoje são nada

Para tantos outros.

O ciclo é inquebrável.

E nele vivo como fantasma

Nessa dança de perfume e miasma

Que é seguir em frente.