Uncle Albert (Tio Alberto)
Toda vez que toco no nome de meu tio Alberto me lembro de sua figura tão agradável e boníssima, muito iluminada. Lembro-me também da música Uncle Albert/ Admiral Halsey, de Paul MacCartney.
Tio Alberto nos apoiava diariamente, nos acolhia e nos amava como um segundo pai.
Morava vizinho da nossa casa. Casou-se com a irmã de meu pai, não tiveram filhos, era tão ou mais próximo que qualquer tio de sangue.
O fusquinha vermelho, sempre readaptado, seguia avanços tecnológicos, e estava à disposição de todos. Ao pé da cama, uma plataforma vibratória energizava o corpo a partir dos pés, assim, iniciava seus dias tão especiais até o fim.
Um dia foi no quintal confluente e convidou-me: “Venha ouvir essa música”. Era uma musica italiana com o nome Isabela. E eu que havia relutado em parar a brincadeira para atende-lo, disse: “Tio toca de novo!”
Constantemente carinhoso, nos levava a passeios na natureza, cinema, clube, doceria da Dona Elpídia (que delícia), e compras. Meu primeiro relógio de pulso, sapato, perfume, lencinhos, enfim.
Fumava cigarros da marca Capri. Um dia, acendeu um e imediatamente o jogou após a primeira baforada, afirmando:- “O sabor está horrível, o odor é de produto tóxico, e está escrito que aumentaram várias substâncias perigosas-“. “ Nunca mais acenderei um cigarro.” E parou mesmo!
Cozinheiro caprichoso, criativo e habilidoso fazia com prazer ótimas receitas. Ao fim de um dos almoços que nos proporcionara, anunciou todo alegre: “E agora a sobremesa, será...Melão ao Maraschino!” Naqueles tempos às crianças era dado algo alcoólico. No domingo seguinte, na casa de minha avó, tivemos copos de vinho+açúcar+água.
Quando entrei na faculdade, minha mãe estava ainda em São Paulo se recuperando de uma grande cirurgia. Tio Alberto quem me levou de mala e tudo porque as aulas iam começar. Na ida percebeu que eu estava insegura, com medo, preocupada com minha mãe, tentou tudo para me alegrar. Almoçamos na Barra Bonita, que era no meio do caminho, eu escolhi o prato, peixe, claro! Passeamos um pouco na cidade, ele me falando que tudo ia dar certo. Ao conhecer a pensão onde fiquei inicialmente, percebi que não gostou, mas falou que era provisória. Ao me abraçar, eu não queria deixa-lo ir. E ele sentou-se ao meu lado, e quando se foi, eu estava mais calma. Tio: equilíbrio, paz, atitude.
Já velhinho, quis dar à minha filha, um presente em seu 4o. aniversário. O levei numa loja e ele escolheu uma linda roupa porque tinha bom gosto para tal. Na hora de pagar ele preencheu o cheque e perguntou ao dono quais dados deveria informar, e recebeu a seguinte resposta:- ”De pessoas como o senhor, não preciso de nada, basta sua assinatura no cheque. O senhor é muito digno.”
Quando meu irmão me apresentou uma caixinha com coisas sem valor material, para que eu escolhesse algo dele, que tinha partido, preferi a caderneta com textos feitos à mão e tinta. Era um registro de orações do cotidiano. A letra é encantadora porque é uma caligrafia muito artística.
A música de Paul foi baseada no tio Albert: -“Ele é alguém de quem me lembro com carinho, e quando a música estava chegando, era como uma coisa nostálgica”. A música traz um pedido de desculpas de sua geração à geração mais velha, e o Almirante Halsey como figura autoritária que deveria ser ignorada.
Tudo a ver com nosso tio Alberto, esse uncle Albert!
A música dos Beatles é para você também!
O nosso carinho, e o reconhecimento da regalia de tê-lo pai segundo.
Tivemos vida que valeu a pena também por sua mediação.
Os tempos são de rever bons sentimentos e recria_los em nós, para que a saudade deles fique possível.
https://diariodosbeatles.blogspot.com/2021/05/a-faixa-uncle-albertadmiral-halsey-do.html?m=1 Diário dos Beatles. A faixa "Uncle Albert/Admiral Halsey" do álbum RAM