O infinito

Sabe... Às vezes olhamos para as experiências da vida e sentimos um pouco de medo por saber que elas podem acabar, terminar, chegar ao seu limite. Na verdade essa é uma certeza, é um fato. Tudo na vida chega ao seu ponto final, ao seu fim, ao seu adeus. E, então, receosos, evitamos de viver certas experiências em sua completude e plenitude. Ainda que passemos por elas. Ainda que as experimentemos de forma superficial. Mas não nos aprofundamos. Não nos entregamos verdadeiramente. Não deixamos de lado o medo, o temor e o receio a fim de mergulharmos de corpo e alma naquelas coisas que a vida tem a oferecer. Ficamos sempre na defensiva. É quando nunca falamos que amamos. É quando nunca ofertamos um abraço. É quando não nos permitimos demonstrar preocupação. É quando, mesmo diante das coisas mais emocionantes, fazemos o (im)possível para não demonstrar a alegria que sentimos, o êxtase que nos domina, a emoção que nos invade. É quando, de braços cruzados, distantes, assistimos e vida passar e evitamos passar por ela. Porque em nosso íntimo, lá no oculto de nosso interior, sabemos que as melhores coisas estão fadadas a terem um encerramento. Não queremos presenciar esse fim. Não queremos ter que abrir mão daquilo que por algum tempo nos fez tão bem. Não queremos ter que viver apenas com lembranças ou memórias que nos avisam que jamais viveremos o que elas nos representam. Por temermos a finitude não vivemos o infinito. Ele é agora.

“Não importa quanto vá durar, é infinito agora” (Caio Fernando Abreu)

É no agora. No presente. É nesse exato momento que o infinito acontece. Porque é no agora, nesse exato momento presente, que podemos viver a completude do que quer que seja. Não é no futuro, a partir de devaneios e imaginações. Nem no passado, através de recordações e retrocessos. É no agora. Apenas no agora podemos viver. Porque a vida só acontece no agora. Quando olhamos para o passado, a vida virou história. Quando olhamos para o futuro, a vida não passa de suposição. Mas quando sentimos o agora sentimos a vida. Ela é o agora.

Então não precisamos temer o fim das mais maravilhosas coisas que vivemos, que, por enquanto, temos ao nosso lado, na nossa existência, em nosso caminho. Porque agora elas são infinitas. Elas estão disponíveis. Elas estão aí, prontas para serem vividas. Aquele “eu te amo” sentimental só pode acontecer no agora. Aquele abraço verdadeiro só pode ser dado agora. E se não demonstrarmos que nos importamos com a vida agora, talvez jamais poderemos demonstrar. Porque quando o agora se for, o agora da nossa vida, da nossa realidade, do atual momento que vivemos, poderá restar apenas arrependimento pelo infinito que não foi vivido incondicionalmente.

E daí que as coisas terminam? E daí que as coisas acabam? E daí que precisamos seguir em frente mesmo que com lágrimas nos olhos por termos experimentado a finitude da vida? Ao menos sentimos a vida acontecer. O amor nascer. A lealdade acontecer. Sentimos a existência. Não estivemos aqui, simplesmente. Existimos de verdade. Fizemo-nos existentes. Fizemos a existência acontecer! E foi infinito. Foi incalculável. Foi eterno enquanto durou. E durou enquanto teve que durar. Durou enquanto fez sentido durar.

(Texto de @Amilton.Jnior)