O VALE DOS SONHOS PERDIDOS

 

 

   Não foi um sonho o que aconteceu comigo, pesadelo nem pensar, eu simplesmente não estava dormindo. Também não estava no meu senso normal, na minha racionalidade mental, digamos que estava entre o "on" e o "off", esse espaço vago onde as lembranças flutuam, onde a lógica não tem muito acesso, salvo raros casos como esse que passo a relatar.

 

   Sempre fui adepto da Natureza, desse mundo com o qual poucos convivem, a gente sente que esse campo que faz parte da vida é muito importante para os seres de uma forma geral, quer dizer, não só para os humanos. Vivendo por esse ângulo somos capazes de fazer com que nossas emoções sejam filtradas, é expelida toda a "sujeira mental" ficando só os bons fluidos, naturais em uma mente sã, ocasião em que novos fluidos vão adentrando o cérebro e nos deixando em estado de letargia, de relaxamento do corpo, o que muitas vezes nos deixa a impressão de que estamos flutuando. Tudo isso no mais completo silêncio.

 

   Não precisei ir muito longe, apenas me instalei em um lugar solitário e silencioso, apenas o som da brisa refrescante eu ouvia, ou o canto de um ou outro pássaro em uma árvore ou sobrevoando o local. O verde a minha frente me encantava, o visual nordestino onde existia um vale me chamou a atenção e algo me fez com que eu olhasse bem lá embaixo. Entre o céu e o fundo do vale pude vislumbrar imagens não nítidas que desciam e lá ficavam, era como se bolhas de sabão flutuando desciam em vez de subirem ao sabor do vento e nelas essas imagens. Impressionante, simplesmente um espetáculo de tirar o fôlego.

 

   Meus olhos lacrimejaram, não pude me conter. Percebi que eram sonhos ali sendo jogados e se perdendo para sempre. Sonhos de pessoas que tanto desejaram algo incomum e não conseguiram. Eu tive a nítida impressão de que os donos daqueles sonhos estavam sofrendo. E eram muitos, eram demasiadamente infinitos em quantidade e eu apenas observava sem nada poder fazer. Era um expectador triste com esse espetáculo que a Natureza me proporcionava. E isso me fazia sofrer também. Pude olhar com mais clareza o fundo do vale, os sonhos lá estavam, a grande maioria sonhos recentes, os mais antigos ali depositados, talvez há décadas, se diluiam em fragmentos até desaparecerem para sempre. O som de choros se confundiam com o meu, eu soluçava sabendo que muitos vertiam lágrimas por não terem realizado seus sonhos. E nesse estado neutro entre o "on" e o "off" eu despertei para a realidade.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 09/03/2023
Reeditado em 09/03/2023
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