A ARTE É (APENAS) EXPRESSÃO DOS SENTIMENTOS?
Há um problema com o ensino da arte que é: não se pode ensinar a arte propriamente dita, alcançada somente através de um misto de inspiração e transpiração (quiçá uma dose de providência), praticados à exaustão; apenas os princípios universais a nortear o artista quando muito dedicado.
Os elementos técnicos podem ser transmitidos sem qualquer prejuízo, desde interiorizado pelo mestre-professor, mas são, ainda, esquemas secos, esvaziados daquilo que o sustenta: a essência. Em outras palavras, pode-se conhecer de cor e salteado um incomensurável número de regras (por exemplo, pés-métricos, escansão, conceito de melopeia-fanopeia-logopeia, na poesia; os três atos, a jornada do herói, no cinema e por aí vai) e mesmo assim conceber obras ocas, vazias de sentido, destituídas de valores estéticos.
A simplificação do conceito artístico a mera expressão dos sentimentos, ideia de senso-comum viva na maioria das pessoas, limita o papel da arte ao entretenimento; sem valores transcendentais a sustentá-la, não poderia sobreviver senão a um breve instante, um suspiro fugaz e de nenhuma importância ao quadro maior dos conhecimentos humanos; exceto àqueles cuja emoção subjetiva seja compartilhada no instante mesmo de contato com a obra, mas nunca sobrevivendo a uma segunda inspeção.
Arte é técnica e o artista necessita da consciência plena dos seus elementos formais para executá-la com - mínima - relevância, enquadrá-la dentro dos moldes metafísicos que a amparam (arte é uma espécie de transcendência, afinal) que são universais e comum aos homens de todos os tempos. Conhecer tais princípios por detrás das cortinas aparentes é o passo fundamental para quem deseja tornar-se um verdadeiro artífice.