Joana
Eles eram jovens, e embora fossem polidos e atenciosos, eram demasiado sérios, quase sisudos,
não posso me lembrar de um sorriso que tenham dado. A vida parecia ser dedicada a agradar os outros, nunca reclamar, nunca contrapor ideias mesmo quando perguntados.
Tinham na época dois filhos, um menino e uma menina, e a relação com eles era a de pais tradicionais, que zelam pela saúde, e que preveem obediência e cobranças escolares, dentre outras. Poucos risos e brincadeiras.
Definitivamente não era uma família aberta, eram conservadores, de entoar o hino nacional, mesmo em era de tremenda injustiça social.
O tempo foi passando e nasceu Joana.
A improbabilidade de ocultarem sua condição desde bebezinha, e de que isso viesse a se resolver no tempo, deve ter abalado a família.
A vida escancarada!
Todos sabiam que aquela família abrigava um ser diferente e que necessitava atenção especial e, então, uma sequência de mudanças aconteceram.
A mãe que sorria de forma protocolar e sem viço, passou a ter o direito de rir.
Um riso doído, pelos cantos da boca, mas de verdade, dela, legítimo, os olhos com uma expressão nunca vista!
Passou a reagir mais confortavelmente frente a pequeninos deslizes, como, deixar o portão bater levemente, aceitar uma pequena gentileza, deixar cair um envelope, tudo sem culpa!
A dor verdadeira sublimou as dores que se tornaram muito menores, como da timidez, da fragilidade e insegurança que nutria frente a novidades do comportamento da sociedade.
Agora ela era mãe, ela gritava, ela consolava, ela ria com gosto, tornou-se mais leve por tanto peso que lhe caiu às costas. Ao marido aconteceu o mesmo, foi como se soltassem as cordas de um marionete. Entre eles o diálogo ficou mais normal, mais solto.
Um ser diferente habitava o lar deles.
Outros valores apareceram entre suas prioridades e preconceitos.
Prioridade mesmo? Sublime?
Joana!