Apertar a alma
Somos quem somos. E, em muitas vezes, gostamos do que somos. Apreciamos o que temos. Admiramos aquelas características que, sabemos, não podem ser encontradas em nenhum outro lugar senão apenas em nós. Infelizmente, no entanto, por vezes nos sentimos acanhados, inseguros, incertos quanto a demonstrar ao mundo a nossa verdade, a nossa essência, a nossa identidade. Parece que algumas pessoas não conseguem nos aceitar. Ao menos respeitar. É como se a nossa forma de viver, o que gostamos e o que queremos para a nossa vida, coisas totalmente congruentes com a nossa realidade, desagradassem aqueles que estão ao nosso redor. Mas se eles fossem apenas pessoas aleatórias, tudo bem, suas opiniões não importariam. Acontece que muitos desses sujeitos são pessoas especiais para nós, com as quais temos algum laço afetivo, sem as quais nossas vidas não seriam mais as mesmas porque as amamos... Sentimo-nos inadequados. Não podemos ser autênticos e verdadeiros diante de sua presença. Precisamos disfarçar. Ou, até mesmo, nos anular. Precisamos dar às costas para quem somos, para as nossas verdades, caso contrário não poderemos nos sentir aceitos por aqueles que, confessamos, jamais seríamos capazes de rejeitar pelo motivo que fosse. É quando tomamos uma triste decisão. Ao invés de sermos nós mesmos, desempenhamos a personagem que os agrada e nos tornamos pequenos.
“É uma crueldade apertar a alma para caber no olhar estreito de alguém” (Ana Jácomo)
É exatamente o que fazemos. Essas pessoas têm uma visão muito reduzida sobre a vida. Seus olhos parecem estreitos demais. Seus pensamentos são muito limitados. Elas não conseguem compreender a grandiosidade da nossa felicidade se tivéssemos a oportunidade de sermos nós mesmos ao seu lado. Mas elas são importantes. Queremos mantê-las por perto. Então nos apertamos. Esprememo-nos. Ficamos totalmente desconfortáveis em caixinhas nas quais mal conseguimos respirar. É quando rejeitamos nossos sonhos. É quando negamos nossos desejos. É quando deixamos de nos amar.
Acontece que também nos apertamos diante daqueles com os quais não temos nenhum tipo de envolvimento, nenhum laço que faça com que suas opiniões tenham um valor emocional para nós. A gente se aperta quando sabe que diante de certas pessoas corremos risco de vida se ousar ser quem é. Tememos pela nossa vida. Tememos pelo nosso bem-estar. Tememos pela nossa segurança. São pessoas insensíveis tamanha é a estreiteza de seus olhares sobre a vida. São tão estreitos que não se dão conta de que veem suas próprias vidas de forma minúscula, superficial e não se permitem a uma felicidade genuína por temerem se levantar contra crenças tão irracionais que os impedem de bem viver. Seus olhos estreitos não lhes permitem contemplar a amplitude da vida, ao contrário, só os faz temer quem, no seu direito de existir, decide viver a grandeza do seu ser.
Só que acima de medos e amores, precisamos ter respeito por nós mesmos. Não vale a pena nos apequenarmos, nos espremermos, nos apertarmos em caixinhas que não nos servem, que não nos acolhem, que nos aceitam em nossa completude. Não podemos ser aceitos pela metade. Nem devemos ser aceitos pela máscara que usamos. Não é uma aceitação verdadeira. Não estaremos sendo acolhidos com sinceridade. Saberemos, mesmo que em nosso íntimo, que a aceitação que nos oferecem não passa de uma farsa que, momentaneamente, nos consola. Mas viver uma vida pequena diante da possibilidade de uma vida grandiosa, além de cruel é trágico – ficamos aprisionados em nós mesmos sabendo que poderíamos ser muito mais do que nos permitimos ser.
Talvez lhes deem às costas por ser quem você é. Deixe que passem, que sigam, que vão... Pelo mesmo motivo, por ser quem você é, outros tantos se aproximarão. Deixe que cheguem, que fiquem, que tragam aceitação!
(Texto de @Amilton.Jnior)