Pharmarkis
Tenho chegado à conclusão de que falar pode ser um bom remédio. Desabafar sobre o que guardamos tão dolorosamente como preciosidades da memória, aparenta trazer certo alívio à alma.
Bem, eu poderia iniciar dizendo que não me recordo de quando comecei a sentir o que ainda sinto por você, mas seria uma mentira e um clichê. Não foi amor à primeira vista. Diante das más experiências anteriores com o amor, naquela época eu já era recluso a tais sentimentos, então, não foi uma paixonite. Eu diria ser uma animosidade, afetuosidade comum entre colegas, porém, no fundo, eu bem sabia o que estava acontecendo, era tangível a semente que penetrara mais uma vez em meu árido coração. Eu não poderia permitir que ela germinasse, mas você… Bom, você ajudou em seu desabrochar.
Foi em alguma data especial, eu não me lembro bem se era meu aniversário, ou o seu, ou ainda uma despedida de férias. Eu nunca fui de ter gestos afetuosos e carinhosos com ninguém, muito menos recebê-los das outras pessoas. Bom foi o seu abraço que irrompeu o chão seco de meu coração e o inundou com um calor terno…. Um abraço tão forte que você me desequilibrou ao tentar suspender-me. Foi ali naquele exato momento que senti seu coração encontrar o meu e dar à luz a um sentimento que me é muitíssimo familiar.
Senti caírem todas as bastilhas que ergui em minha proteção e uma vez indefeso, novamente, viria um ataque despedaçar-me uma vez mais.
Não tardou muito para eu ouvir uma fala sua, "minha noiva" ou "minha esposa", algo assim. Ai, como eu ri por dentro, como eu fui idiota de novo, não era só a cara, eu realmente era lerdo, bom, ainda sou, eu acho. Era evidente, você era heterossexual e tinha um relacionamento feliz, era tão ridícula a cegueira a qual me submeti. Doeu, eu já estava acostumado e justamente por ser calejado nessas questões, recuperei-me.
Eu sempre fui muito observador, poucas palavras levam-nos a ouvirmos mais e se havia uma coisa em que eu era bom, era ouvir. Eu seria muitíssimo hipócrita se não dissesse que fiquei feliz ao ouvir estares solteiro. Meu Deus! Como eu sou patético, sofria há alguns meses e agora eu estava esperançoso. De quê? Quem sequer iria olhar para mim? Um caladão, feio, gordo, gay, enrustido? O que eu despertaria? Se não ojeriza?
Ai, meu eu, se eu pudesse te contar o quão maravilhoso você é, eu não diria, mostrar-lhe-ia!
A última lembrança que carrego de lá das salas de ensino técnico do Sistema S, foi quando ao notar minha simplória habilidade com desenhos, pediste para desenhar uma runa em vosso braço e vós desenharíeis outra em meu. O nome das runas ficaram gravados em minha memória: runas Parabattai.
Só os céus e os infernos sabiam o quanto eu estava nervoso pelo simples fato de tocar em você, precisei controlar-me tanto para não tremer e não transparecer o meu nervosismo. Dentro de mim queimava o desejo de puxar-lhe e encostar meus lábios nos seus. No dia anterior ao desenho, consultei um amigo que me falou dessas runas e aconselhou a não deixar que você a fizesse em mim, pois era uma runa de ligação, anos mais tarde descobri que não era uma simples ligação, era uma conexão mais profunda, a união de almas.
Quando terminei de desenhar, você pediu para reproduzi-la em mim, mas eu não permiti.
Acho que me arrependo um pouco, quem sabe elas realmente nos fizesse ficar próximos não é?
Tempos depois, o curso terminou, os contatos diminuíram até pararem e o mesmo tempo, fez esse amor adormecer no peito e se eternizar na memória.
Alguns anos depois, senti o processo do ritual sentimentalístico se repetir com um amigo em comum nosso. Bem, com ele eu não escondi o que eu sentia. Qual não foi o meu choque ao saber que ele já sabia sobre mim, desde a época do nosso curso?!
Eu não podia acreditar no que ele havia me dito… que por um descuido meu nos computadores da biblioteca. Você viu algumas mídias íntimas em meu e-mail e o pior, você mostrou-lhe também.
Eu fiquei atordoado e então a doçura azedou, me senti exposto, violado, vilipendiado. O pior estava por vir…
Passado o choque e a vergonha, eu e nosso amigo em comum desenvolvemos intimidades, conversa ia, conversar, voltava até a vingança do inferno se abater sobre mim.
Ele me confidenciara que vocês tinham um caso… E o diabo! Que vocês tinham um caso com um de nossos professores… Meu mundo não caiu, nem desabou. Eu senti a metamorfose tal qual diziam os ditos populares "amor e ódio são separados por uma linha tênue".
Senti vergonha, senti nojo, senti ódio e mais uma vez cego deixei-me banhar e levar pelo chorume infernal.
Aos poucos fui me afastando de vocês, eu não queria macular minhas boas memórias que eu tinha de vocês. E com essa desculpa, rompi o contato com ambos.
Hoje, paro e penso o quanto eu perdi. Me pergunto por que não poderia ter sido um devasso e gozar das delícias da carne com vocês. Fui, sou e continuarei burro no que diz respeito aos sentimentos.
Vezes ou outras lembro se você, sinto saudades, choro, mas depois passa e eu esqueço. Só não consigo esquecer do quanto gosto de ti.
Não sei onde estás, não sei se lembras de mim, bom não importa, o que quero é que estejas bem e feliz, se assim o estiver, assim o ficarei.