O fantasma da depressão
É estranho como as coisas acontecem na vida. Cada pessoa com suas próprias lutas e desafios, tão imprevisíveis e aleatórios que causam inevitável, surpresa.
De vez em quando crio um tempo no meu dia e converso com meus amigos. Temos um alto nível de confiança, eu gosto assim, com liberdade pra conversar qualquer tipo de assunto. E a distância geográfica é apenas um pequeno detalhe.
Na semana passada almocei com um grande amigo, que não nos víamos já há alguns anos. Ele estava noivo de uma colega da faculdade, que também foi da minha turma, ela também almoçou conosco.
Estávamos conversando de uma forma bem descontraída, até que ele me fez uma revelação pessoal que me abalou profundamente. Disse que tinha sido diagnosticado com Linfoma, já tinha mais ou menos um ano, e estava fazendo quimioterapia. Confesso que não consegui disfarçar a tristeza na hora, ainda que não quisesse deixá-lo chateado. Ele me falou tudo de uma forma bem tranquila e serena. Fiquei admirado com a forma que ele estava encarando aquela situação. Ele não estava depressivo. Ele me pediu desculpas por não ter falado nada antes, dizendo que não gostava de vitimismo. E por isso optou por me dizer pessoalmente, e ainda me disse que sempre me considerou um grande amigo. Fiquei sem palavras por um tempo, o encarando nos olhos. Lembrei que ele queria marcar o nosso almoço para o mais breve possível, senti a pressa dele, e só entendi o motivo naquela hora. Não me sinto confortável em dizer isso, mas senti vontade de chorar, de verdade. Foi um nó na garganta, quando ele me disse que a sua avó ligava pra ele todo dia chorando, dizendo que ele era muito jovem pra morrer. Pude sentir a dificuldade em lidar com isso também. Não foi fácil digerir aquela notícia.
São nos momentos difíceis que as pessoas nos mostram a real força que tem.
Ainda na mesma semana recebi uma mensagem de outro amigo, e perguntei como ele estava. Ele havia surtado no trabalho e estava afastado já havia duas semanas. Diagnosticado com depressão profunda, me disse que era bom estar falando comigo. Que estava lidando com aquilo tudo com apoio da família e dos amigos. Me disse que já tava sentindo falta dos memes e mensagens engraçadas que eu enviava pra ele todos os dias. Fiquei surpreso quando me disse que sabia a hora em que o remédio parava de fazer efeito e ele se sentia triste novamente. Ficamos conversando por telefone durante umas duas horas seguidas. Me fez prometer que ia visitá-lo em sua cidade. O que eu pretendo fazer em breve.
Lembrei disso hoje, ao assistir uma reportagem do jornal local, dizendo que tem sido alto o consumo de antidepressivos aqui no nosso estado.
Estou começando a acreditar que nossa geração está psicologicamente doente. O que não é nada simples, pois somos tão jovens...
Por muito tempo pensei que fosse só comigo, que de repente ficava triste sem saber o motivo. Tenho descoberto que é bem mais comum do que parece, crises existenciais se multiplicam em progressão geométrica.
A velocidade e a forma com que as coisas acontecem, somado a enxurrada de informações e padrões sociais, na maioria das vezes inatingíveis, tem cobrado o seu preço. E não tem sido baixo. Está esgotando a força das pessoas, levando à exaustão física e psicológica. É como uma epidemia sem precedentes.
Muitas vezes se faz necessário parar um pouco e meditar ou de qualquer forma se desligar um pouco, buscar a paz interior, ainda que por apenas alguns minutos. Ou mesmo buscar ajuda profissional.
A sociedade está cada vez mais triste e insatisfeita, e a maioria já se deu conta de que os bens materiais, por si só, não são o segredo da felicidade. Já descobrimos isso...
É um paradoxo, vivemos em uma sociedade inimaginável há duzentos anos atrás. Temos acesso a tudo na palma da mão. Doenças que eram incuráveis, hoje são curadas.
Acredito que existem inúmeros motivos para se sentir bem.
O nível de qualidade de vida médio hoje é muito superior do que há algumas poucas décadas atrás. E ainda assim muitos se sentem tristes e depressivos.
Não há uma explicação fácil para essa realidade.
Acredito que nos livros de história do futuro, alguém vai explicar isso de uma forma simples e bem elaborada. Da mesma forma como fazem hoje com as histórias de épocas passadas.
Espero que essa época de depressão social seja superada logo, e se torne um passado distante.