Palavras

Calado, sopram em mim as vozes do mundo inteiro trazidas pelo vento.

Calado, sou mais barulhento que todos os mares do mundo, vibro mais do que vibraria o cantar uníssono de todos os pássaros da terra, e se fizessem coro todos os outros seres humanos juntos, ainda assim minha voz interior se sobreporia sobre a deles, tornando-os mudos para sempre.

Abrigo em mim o mundo todo, e quando calo, falo infinitamente mais do que se abrisse a boca, dando voz aos pensamentos.

Quando calo, na verdade não calo nada, porque se verbalizo, não me expresso devidamente, e banalizo, através da palavra, a imensidão insondável que concentro no meu interior.

Ora, palavras... Que são as chamadas "palavras" diante de nós? Para os medíocres: descrições reconhecíveis da realidade. Para os verdadeiramente humanos: pobres imagens de uma percepção soberba e inexata. Não existe maior barulho para uma alma agitada do que o mais sepulcral silêncio, lugar onde não alcançam as palavras. Onde o sentir representa algo que o mundo jamais compreenderá.