As palavras não ditas
Há coisas ditas e há coisas não ditas. E eu acho que é muito melhor nos arrependermos por aquilo que dissemos do que por aquilo que deixamos de dizer, porque talvez tenhamos a possibilidade de corrigir palavras lançadas, mas nunca teremos a chance de recuperar palavras que foram engolidas. Muitas vezes deixamos de dizer algo importante por orgulho, por arrogância, ou mesmo por insegurança. Temos medo de, através das palavras, revelarmos um pouco de nós, de quem somos, do que sonhamos. Temos medo da vulnerabilidade a qual o abrir do nosso coração pode nos entregar. Mas deveríamos ter muito mais medo de passarmos por essa vida sem nos ligarmos a alguém emocionalmente. Porque apenas essa ligação é capaz de nos eternizar. Se há uma forma de vencermos a morte é conquistando o amor e o afeto de quem importa.
Mas tantos são os discursos e as declarações que deixamos para depois, ou que simplesmente engavetamos e não ousamos proferir por medo, por receio, por insegurança quanto ao que dirão de nós, que nos privamos de nos ligar a quem amamos, a quem, em alguma medida, desperta em nós sentimentos profundos, íntimos e intensos. E não são apenas declarações verbais, anunciadas pelos gestos. Às vezes nem mesmo gestos conseguimos expressar, gestos que anunciem o quanto aquela pessoa nos é importante, o quanto a desejamos em nossa vida, o quanto precisamos da sua existência junto a nossa.
E o arrependimento vem. Quando o ponto final é colocado e cada um segue por caminhos diferentes, distintos e até impossíveis de uma religação, fica o arrependimento pelas palavras que não foram ditas, pelos gestos que não foram manifestados. O que poderíamos ter feito de diferente? Indagamos. Como as coisas teriam sido se tivéssemos nos expressado? Questionamos. Mas a resposta não vem. E fica aquela incômoda incógnita sobre como poderia ter sido a vida, o amor que nela tínhamos, se não tivéssemos tido tanto medo de expor a nossa vulnerabilidade ao dizer palavras importantes, que desnudariam nossas almas, a quem mais nos importava.
O que queremos para a nossa vida? Dúvidas e questionamentos? Aquela triste insegurança sobre como poderia ter sido se tivesse sido? Ou certezas e conclusões a partir do que nos permitimos viver? Ainda que seja frustrante. E ainda que as coisas não saiam como o esperado. Ao menos tentamos. Nossa parte fizemos. Jamais poderemos nos culpar por termos tido medo de viver!
(Texto de @Amilton.Jnior)