Amor e ódio no vocabulário da política nacional.

Despretensiosamente, arrisco pensar alto sobre como me incomodo com o uso de certos termos que, vão se cristalizando nas falas dos políticos e mídia, e correm o risco de se perpetuarem, e entrarem no rol daquelas expressões difíceis de explicar fora do Brasil. Difíceis também, de fazer a população aderir às nobres causas embutidas no “vamos combater a cultura do ódio”.

Coisas a considerar:

*o que é ódio?

* como se forma o ódio?*

*o que significa combater a cultura do ódio?

O que é ódio?

Ódio é um sentimento intenso motivado por medo ou raiva ou injúria. Surtos de raiva são transtornos explosivos intermitentes. Ódio, medo, e a fúria são condições psicológicas? Se o forem, é possível trata-los fora da esfera da saúde? A saúde mental e seus profissionais não teriam que estar incluídos em qualquer Comissão de “combate ao ódio”, cuidando e orientando a inserção dos portadores dessa condição psicológica na sociedade?

Como o ódio pode surgir?

O ódio pode surgir das crenças e preconceitos que temos de conflitos entre grupos e dos problemas econômicos, ou das turbulências e promessas políticas que frustram as pessoas.*

O que é discurso de ódio?

Não existe uma única definição para discurso de ódio, entretanto, todas elas se assemelham. Com base em algumas conceituações e no senso comum sobre o termo, a conclusão é que discurso de ódio é um conjunto de ações com teor intolerante direcionadas a grupos, na maioria das vezes, minorias sociais (mulheres, LGBTs, gordos(as), pessoas com deficiência, imigrantes, dentre outros).**

Outra definição: O discurso de ódio é considerado um tipo de violência verbal, e a sua base é a não-aceitação das diferenças, e o foco dessa prática se dá, em sua maioria, naquelas ligadas a aspectos de crença, origem, cor/etnia, gênero, identidade, orientação sexual etc.**

Como combatê-lo?

O discurso de ódio é crime porque atenta contra os direitos humanos (Constituição: inciso IX do Artigo 5º); o principal debate sendo que ele se ampara pela liberdade de expressão.**

Parece que o que se quer e se considera que seja combater o discurso de ódio, é necessidade de uma lei específica que tipifique-o como crime e determine as penas cabíveis.**

Outro ponto são ações de conscientização das pessoas, com palestras, dinâmicas, em escolas e ambientes de trabalho para que não disseminem o discurso de ódio.**

Diálogo:

-Olá, fala-se muita na cultura do ódio entre nós. Se amor é o contrário de ódio, pergunto: o senhor ama? Muita gente? O que o senhor tem feito por quem ama?

-O senhor concorda que estamos vivendo uma onda de ódio? Sabe me explicar se é ódio político, interpessoal, de gangues, no futebol talvez? Nas famílias? Intolerância religiosa? Ódio ao pobre? Desculpe-me, isso num sempre existiu?

-Mas me diga meu senhor: na pandemia, nas enchentes, nos despejos de famílias pobres, nas injustiças que viu, o senhor pode ajudar de algum modo? Porque isso é o oposto do ódio, não é?

Silêncio.

(Se se aprofundam os termos amor e ódio vê-se que eles sequer podem corresponder a atos de solidariedade social, e indignação verdadeiracontra a injustiça).

Não é fábula

A cultura do ódio vai à missa, casa os filhos com ostentação, destrata sistematicamente seus funcionários e critica qualquer aumento de salário ou estabelecimento de direitos, tem noção equivocada de sua origem, a ponto de pontuar para a filha do marceneiro que a cidade que vivem é “particular”(referindo-se ao fato da família deles terem fundado uma cidade para si, e não para qualquer.)

(Essa situação é comunissima no interior do Brasil sudeste/sul).

Conclusão.

Se o ódio é uma condição psicológica forjada na formação do individuo, não se conseguirá mudar a condição de violência (que tem sido chamada de discurso do ódio) se não houver atuação psicológica que eduque pessoas nas escolas e nos seus locais de trabalho, porque o sentir ódio é patológico e sofre a comunidade e também o portador.

Se ódio é doença, deve-se refletir sobre alterar o nome e a discussão desse problema. Poder-se-ia pensar em algo como:

“discurso da alienação civilizatória”

“a premência de uma cultura de dignidade”,

“engajamento para a cidadania”

Trabalhar somente o processo final que é a emissão das fake news é assumir que a educação se dará por si, e isso não existe. Educação de ética e regras legais no uso das redes sociais deve ocorrer paralelamente. Mas de forma alguma deve ser prioritária em relação à cura do comportamento e lições da sociologia.

Pensemos que a violência precisa de grupos. Cada pessoa que for "salva" deixa os grupos agressores em dificuldades.

O planejamento do controle dos problemas de violência na comunicação, não pode se restringir à pensar a liberdade de expressão.

Abandonemos as palavras como amor, ódio, quando tratarmos de assuntos ligados ao país, às questões políticas. Amor e ódio ensinamos e aprendemos como definidores de sentimentos pessoais, importantíssimos. Ficam bem na expressão artistica da política, na música. Mas não é possível com amor, combater o ódio da burguesia, a sanha dos imperialistas, e a ganância do neoliberalismo. Para o trabalhador, minimamente consciente dessas forças que lhe impingiram uma vida de sofrimentos, odio e amor nao explicam, nao satisfazem. Estou declarando que essa terminologia não politiza o trabalhador , e a curto prazo traz consequências negativas para o destino do país que precisa resolver as injustiças sociais.

É preciso incluir a participação dos sociólogos que tem sido alijados do Ensino Médio. Como isso é possível? Na disciplina de Sociologia aprende-se, por exemplo: a compreender diferentes sociedades e culturas; conflitos e conexões entre diferentes grupos humanos; visão crítica do mundo e pensamento científico.

Ora, a intolerância e os preconceitos tem justamente o que traz a Sociologia: estudar para compreender as diferenças.

É o tratamento multivariado, sério, integrado que nos tirará das consequências graves das fake news e do discurso de alienação política! Com essa consciência chegaremos ao socialismo, que é o sistema verdadeiramente inclusivo e que produz justiça social e é duradouro.

*https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/12/ciencia/1513073061_342064.html. O que é ódio? Por acaso tem cura? Ignácio Morgado Bernal. 2017.

** https://www.politize.com.br/discurso-de-odio-o-que-e/?https://www.politize.com.br/&gclid=Cj0KCQiAutyfBhCMARIsAMgcRJRkedAyskrqeH-dKPg6WW6R0dRvchxWMubv1VdXj1XdOzkULOw_k0EaAq-LEALw_wcB. Discurso de ódio: o que caracteriza essa prática e como podemos combatê-la? Inara Chagas. 2020.