***Apenas uma página do meu diário***
“...estava tudo tão escuro, que como um ser acostumado às trevas, eu não percebi a dimensão do abismo em que vivia.”
Fernanda Vieira
Nos últimos tempos, a humanidade vem partindo do princípio de que as dores emocionais causam a ansiedade, a depressão. Gosto de imaginar que sentimentos associados à tristeza tem um efeito balsâmico. Sim, uma espécie de agente anestésico diante da cruel realidade que se desenrola no decorrer das nossas vidas. Após vivenciar muitas fases em que o sofrimento se tornou frequente, passei a procurar aconchego nos cantos mais escuros da mente; transformando-a, num ninho confortável de imersão ao caos.
No início, ainda sem entender do que se tratava aquele processo, eu encarava o “fim do poço” como um momento decisivo. O instante perfeito para virar o jogo e iniciar a escalada que me faria sair daquele buraco. Tentava a todo custo reunir forças para seguir em frente com os planos que traçava, no entanto, o desânimo era o único estimulante que realmente funcionava e, ele só me impulsionava cada vez mais para o fundo.
Após anos vivendo a mesma experiência malsucedida, cansada e frustrada, passei a evitar tomar quaisquer atitudes. Fazer tanto esforço mental e físico para não obter o resultado esperado era muito desgastante e, proibi essa prática, riscando-a do meu manual de sobrevivência. Entender essa situação me poupou de uma imensa fadiga, pois, percebi que era como “enxugar o gelo”. Sendo assim, em estado de aceitação e passividade, eu desisti da escalada.
Eu precisava de calmaria, me sentir em segurança e, não havia lugar melhor do que aquele cantinho escuro e solitário no fundo do poço. Quando se toma uma decisão como essa, as pessoas tendem a julgamentos. Acreditam piamente que palavras de incentivo e positividade, irão te ajudar. Isso até pode auxiliar por algum tempo, mas, acredite, não será o bastante para trazer você a borda. As pessoas de convivência mais próxima teimam em lhe dar o título vitalício de preguiçoso, pois, não fazem ideia do peso colossal que o desânimo e a descrença exercem sobre você.
Em muitas ocasiões eu achei que sofria de algum mal. Talvez alguma doença desconhecida que me deixava num estado de abatimento permanente. Criei várias teorias, pesquisei os sintomas e, quando não encontrei repostas, continuei vivendo da mútua incompreensão. Por anos vivi essa rotina, e após muitas crises depressivas, entendi que precisava de assistência especializada.
A consulta com o psiquiatra parecia a única saída para o estágio em que eu me encontrava. O mais difícil, foi a tarefa de sair do meu casulo e me locomover até o endereço indicado. Ao mesmo tempo eu estava ávida por respostas e mudanças daquele cenário; eu não queria dar nem um passo, mas dada a minha condição, reuni a energia que sobrava para uma última tentativa.
Muitas pessoas têm dificuldade em falar de seus temores, principalmente aqueles que te fazem estagnar por completo. Geramos muitos bloqueios após experiências devastadoras ao decorrer da vida. No entanto, se fazia necessário tomar uma medida definitiva, e após uma hora de interação com um desconhecido qualificado, fui apresentada ao meu maior algoz:
“Prazer, TDAH!”