Viver seria sofrer?

Esses dias eu estava no YouTube ouvindo algumas músicas quando me deparei com mais uma de Oswaldo Montenegro. Uma canção inspiradora, como todas as outras desse cantor famoso por aquele choque de realidade em forma de canção quando nos defronta com A Lista. No entanto, a música que ouvi dessa vez traz outra grande verdade: não dá para passar pela vida sem a dor de enfrentá-la:

Se alguém vier pedir o meu conselho

A gente não aprende no espelho

A gente vive e sofre para aprender

Pensei em algumas coisas quando ouvi esses versos. Em muitas, na verdade. Montenegro parece ter esse poder sobre nós: o de nos colocar diante de nossas próprias indagações, como se, através das palavras, conseguisse descrever os sentimentos que permeiam a nossa alma... Mas, para não me alongar tanto, o que quero compartilhar é o que concluí com esse trecho: talvez a vida não seja sofrimento, mas o sofrimento faz parte da vida quando optamos por vivê-la de verdade.

Só há uma maneira de não sofrer nesse mundo: não vivendo. E não é no sentido de nunca existir ou no de, uma vez nascido, então morrer. Não. É em um sentido diferente, mais amplo, talvez, que pode passar despercebido. Não viver, para mim, é renunciar aos nossos sonhos, é dar as costas aos nossos projetos, é deixar cair no esquecimento aqueles sonhos da juventude, é, enquanto envelhecemos, ficarmos cada vez mais conformados com o marasmo de uma vida que não corre riscos, que não se permite às aventuras, que não se permite a mudar de janela e encarar o horizonte por ângulos diferentes. É aquela vida na qual pouco fazemos em nome da nossa felicidade, achando que a inércia é mais segura e nos poupará de amarguras. É aquela vida na qual esperamos sempre por um milagre: um milagre que nunca vai acontecer porque ninguém pode viver a nossa história por nós.

“A gente não aprende no espelho”. É isso. Aprender, aqui, entendo como aprender sobre a vida. E aprender sobre a vida, para mim, só acontece quando saímos da frente do espelho, do nosso limitado mundinho, e a vivemos. E se não viver a vida são aquelas coisas que listei no parágrafo anterior, vivê-la é fazer exatamente o oposto. É correr atrás de nossos objetivos com sobriedade e prudência. É sonhar novos sonhos quando os antigos perderem o sentido. É fazer planos mesmo quando a tempestade faz soar o seu estrondo. É ter uma realista esperança em dias melhores, porque, sim, eles acontecerão. Mas não é simplesmente esperar pelo melhor. É, dentro das nossas possibilidades, agir para que o tal melhor aconteça. É olhar para a vida nos responsabilizando pela parte que nos cabe. É não cair no conformismo. É entender que existem dificuldades, mas que se não nos arriscarmos jamais saberemos como poderia ter sido. E correr riscos assusta. Entendo esse receio como sendo o nosso sofrimento. “A gente vive e sofre para aprender”. Às vezes vai dar errado, e experimentaremos frustrações. Às vezes quebraremos os pés ao saltarmos mais alto do que nos era permitido. Às vezes ganharemos uns arranhões por lutar contra os nossos medos. Sofrimentos que fazem parte da vida. Esse é o custo de viver uma vida autêntica e verdadeira. No entanto, em meio a esse sofrimento, virá também o aprendizado. Virá o nosso crescimento. As conquistas acontecerão. E experimentaremos do bálsamo de uma vida vivida que nos recompensará das dores sofridas. Quem não vive não sofre, é verdade. Mas também não se emociona quando, ainda que exausto, depois de tantas lágrimas e tanto suor, finalmente alcança seu objetivo. Não tem a sorte de se orgulhar de si mesmo, da própria história, da existência que existiu.

(Texto de @Amilton.Jnior)