O ECLIPSE DA TRADIÇÃO
Um dos maiores perigos de nosso tempo consiste no fato de pensarmos e agirmos como se não precisássemos de um fundo originário que nos dê algum alicerce ou sustentação. Ou melhor, como se não precisássemos de qualquer tradição como suporte para a nossa caminhada existencial, eclipsando a nossa maneira de ver o mundo e considerar o nosso semelhante e os demais seres vivos. Esse percurso de desconstrução dos valores tradicionais pode conduzir a vida humana a uma verdadeira mazela, ou seja, às beiras do niilismo, da ausência generalizada de convicções espirituais e a tendência a depreciação do que antes era visto como belo, bom e virtuoso nos moldes da ética platônica e judaico-cristã. Podemos ver esse fenômeno em vários âmbitos, como por exemplo, em filmes, novelas e livros... Se outrora havia a presença dos heróis como fonte de inspiração para muitos jovens ou até mesmo dos grandes homens da fé, hoje em dia, estranhamente, as fontes de inspiração tem sido os anti-heróis, e em alguns casos os seres degenerados com tendências psicopáticas. Muitos podem ver nesse processo como algo perfeitamente natural, irreversível ou compreensível; porém, não há como negar que exista uma tendência para considerar belo o que traz um perfil animalesco e demoníaco; e o que é bom, o que guarda traços antissociais mediante um perfil vingativo e justiceiro, sem qualquer valor patriótico, religioso ou familiar como fundo arquetípico de certas ações e ímpetos. Resgatar o originário para a vida é muito mais do que mero tradicionalismo ou conservadorismo puro e simples. É na verdade, encontrar o sentido de missão indispensável para que não nos percamos no vale da desesperança e cheguemos aos nossos verdadeiros objetivos com base no que pode haver de mais perene e indestrutível em nosso ser.