Retrospectiva do Caos
E as portas se fecharam;
Os abraços pausaram;
Aniversários e casamentos foram cancelados;
O futebol foi moderado;
Os cemitérios lotaram;
Os hospitais entraram em colapso;
O centro de São Paulo silenciou;
A ansiedade de muitos atacou;
Mas pudemos ouvir os pássaros;
Artistas foram valorizados;
Diminuímos a poluição;
Nos permitimos pela primeira vez ouvir o próprio coração;
No ápice do caos ficamos confinados;
Contratos de trabalho foram quebrados;
Vimos mortes em massa;
Choramos dores alheias;
Ficamos amedrontados;
O aluguel ficou atrasado;
O auxílio não foi aprovado;
Mas a tecnologia tem nos aproximado;
A mesma que tanto tem nos afastado;
As escolas fecharam;
Professores foram reinventados;
Eu vi mães chorarem;
Vi médicos e enfermeiros cansarem;
Eu vi amores serem reinventados;
Ouvi dizer que alguns finalmente se encontraram;
Eu vi o planeta em caos;
Eu chorei de saudade;
Mas que saudade dos abraços;
Que saudade da minha mãe;
E quando acabar;
Será que teremos superado?
Será que ainda vamos saber nos encarar?
Será que ainda vamos saber nos abraçar?
Talvez possamos dar mais valor;
Talvez nada nunca apague tanta dor;
Mas eu prefiro acreditar que nós vamos superar;
Eu sei que os dias são mais azuis;
Eu ouço toda manhã o sabia cantar;
Eu vejo o mundo se ajudar;
Eu ouvi dizer que logo isso vai passar;
Mas enquanto não passa eu faço do caos poesia;
Faço da dor alegria;
Ansiosamente esperando um novo dia.