A força de um abraço
Vivemos em um mundo de opressões. Tem hora que a gente se sente sufocado. Tem hora que, mesmo rodeados por tantas outras pessoas, mesmo nos espremendo dentro de um ônibus lotado, nós ainda nos sentimos solitários, sozinhos, como se fôssemos inexistentes diante das outras pessoas. Às vezes vamos contar sobre uma conquista que tivemos ou alguma luta que enfrentamos, mas nosso ouvinte arruma um jeito de fazer com que a conversa seja por ele dominada, seja preenchida pelas suas próprias inquietações e, uma vez mais, sentimo-nos invisíveis diante de alguém que consideramos importante. Mas nós também agimos assim. Quantas vezes não reclamamos por ter que ouvir o desabafo de um amigo? Ou quantas vezes não sentimos aquela pontada de inveja e ciúme quando nossa amiga vinha nos contar o porquê daquele sorriso tão largo e espontâneo? Sentimo-nos sozinhos porque permitimos que o egoísmo e o egocentrismo nos governem: amamos apenas a nós mesmos e entendemos o mundo apenas a partir do nosso ponto de vista!
“Em um mundo tão cheio de opiniões e dedos apontados, às vezes receber um abraço é tudo o que a gente precisa para encontrar o eixo de novo. Não é por acaso que abraços curam, recomeçam, salvam. Eles chegam onde palavra nenhuma alcança” (Bibiana Benites)
E nesse mundo de tantos falantes, mas poucos ouvintes, tem hora que desejamos por apenas uma coisa: um contato humano, uma troca sensível, um olhar compreensivo e acolhedor. Não queremos muito. Tem hora que nem mesmo uma conversa queremos, porque estamos nos sentindo tão enfraquecidos e cabisbaixos que o simples formular de palavras e sentenças se torna uma tarefa difícil demais. Queremos apenas uma companhia incondicional. Uma presença sem pretensões. Um abraço que vá onde palavras não entram.
Você tem se permitido a acolher alguém? Não precisa ser um grande orador, nem ter domínio sobre as palavras mais complicadas do nosso idioma. Para curar, salvar ou ajudar alguém a recomeçar, um abraço, um silencioso, simples e genuíno abraço pode ser a mais certeira das soluções. Não precisamos de muito para concedê-lo. Basta que estejamos por inteiro. Que sejamos sinceros. Que recebamos com abertura e sem julgamentos a dor do outro, o seu choro, o motivo da sua lamentação. Basta que estejamos presentes de verdade. Basta que no momento do abraço esvaziemos nossas preocupações, afastemos nossas distrações, e sejamos atentos ao que se manifesta naquele encontro entre duas pessoas dispostas a seguirem em frente. Basta que você se permita a sentir o coração do outro tocar em sua própria pele.
Esse abraço íntimo, profundo e genuíno pode nos assustar. Sim, pode ser um tanto incômodo para nós, nesse mundo de tantos “opinadores” prepotentes, esvaziar um pouco do nosso ego para que nos permitamos ao contato com a existência da outra pessoa. Pode ser assustador baixar a guarda e permitir que afetos nos unam ao outro alguém. Como também pode ser libertador. Pode ser libertador a quem sofre entender que há um lugar no qual se refugiar. Pode ser libertador a quem abraça ter a chance de compreender que a humanidade que pulsa em seu peito tem o poder de transformar o mundo: não o mundo planetário, mas o mundo singular, o mundo de alguém!
(Texto de @Amilton.Jnior)