O problema de escrever

O problema de escrever apenas sobre o que sinto, sobre as minhas vivências e observações é ter que lidar com a imensidão de questionamentos que recebo constantemente. Pessoas próximas tentam adivinhar o porquê de eu escrever cada texto e para quem eu os escrevi.

 

Como eu poderia sanar essas curiosidades se não faço nada de caso pensado? As palavras apenas jorram de mim como se tivessem vida própria, não tenho controle sobre elas, elas quem têm controle sobre mim. Sou apenas uma intermediária do meu eu interior para transcrever o que sinto.

 

Para mim, a escrita é uma forma de acessar o meu subconsciente, entender meus medos, angústias, traumas, amores, alegrias, desejos, enfim, uma forma de organizar os meus pensamentos e tentar me entender. Não sou escritora, sou uma alma perdida tentando se encontrar e se entender.

 

Quando eu me olho no espelho vejo uma mulher séria e inexpressiva, meu rosto não demonstra absolutamente nada do que sinto. Diversas vezes ouvi comentários do tipo: 'você tem cara de brava', 'achei que você fosse metida', 'você não demonstra se gosta ou não das coisas'. Até concordo com os dois primeiros comentários, mas com o último não.

 

Assim como minha escrita fala de mim e do que sinto, meu rosto faz a mesma coisa. Não consigo disfarçar o que sinto, o meu rosto é um espelho do meu interior. Se amo, se odeio, se estou triste, se estou com raiva ou feliz, estará estampando na minha face. Posso até fingir com palavras verbais, mas seria idiotice da minha parte, uma vez que a minha expressão demonstrará a realidade.

 

A mulher séria e inexpressiva que enxergo hoje no espelho é um reflexo do meu interior. Uma pessoa cansada, vazia, sem motivos para sorrir. Uma pessoa que está tão perdida dentro de si que não consegue reagir. Não há tristeza, nem angústia, nem raiva, nem ódio. Não há nada. Estou anestesiada. Meu rosto reflete isso, meu olhar também.

 

Mesmo estando anestesiada, contínuo de pé. Continuo cumprindo com as minhas obrigações e apresentando a minha melhor versão. Já passei por tanta coisa na vida que acho impossível me derrubar, por mais que eu almejasse ser derrubada para dentro de um abismo, a vida me ensinou a construir pontes para atravessar os abismos e lidar com pessoas infelizes e frustradas.

 

Ai, Deus, há tantas coisas que eu queria falar. Tantas palavras engolidas que não podem sair de dentro de mim. É difícil me controlar e manter o bom senso quando há tanta mágoa e frustração entaladas. Não nasci para ser sensata, definitivamente. Sou uma alma impulsiva que grita para ser quem sou e para demonstrar e falar abertamente sobre o que sinto. Ah, como é difícil engolir as palavras, me censurar, mas como faço questão de deixar claro que escrevo sobre mim e sobre as minhas experiências, há coisas que não podem ser ditas, não por escolha minha. Esse é o meu problema ao escrever.

Karoliny Mesquita
Enviado por Karoliny Mesquita em 10/02/2023
Reeditado em 11/02/2023
Código do texto: T7716356
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